Dra. Claire Tesch
Gastroenterologia Pediátrica
Médica Cooperada
As chamadas "golfadas" são regurgitações bastante comuns em crianças nos primeiros meses de vida. Mas até que ponto são simples vômitos inocentes? A partir de quando indicam perigo à saúde do bebê?
Chamamos de Refluxo Gastroesofágico a volta do conteúdo do estômago para o esôfago. É evento frequente e normal em indivíduos saudáveis, constituindo-se de refluxo breve, que não indica doença, ocorrendo no período após a alimentação, e que graças aos sistemas de defesa do organismo contra o refluxo, não causa mal algum, é considerado fisiológico. Deve ser distinguido do refluxo doença (patológico), que danifica as estruturas digestivas levando a uma ampla variedade de sintomas. As crianças nos primeiros meses de vida têm estes episódios de refluxos fisiológicos, conhecidos como “golfadas”.
Estima-se que cerca de 20% a 50% dos bebês apresentam refluxo fisiológico causado por dismotilidade gastrointestinal, ou seja, por imaturidade do sistema digestivo, manifestando-se como regurgitação (golfada) ou vômito. O bebê que "golfa" na maioria das vezes não está doente, apresenta refluxo fisiológico. Ocorre, principalmente após a alimentação, desencadeados pela manipulação da criança, no momento da troca de fraldas, durante o banho ou brincadeiras. Os bebês com esse tipo de refluxo crescem e desenvolvem-se normalmente, ou seja, estão com peso, altura e desenvolvimento apropriados para a idade e não apresentam sintomas respiratórios ou digestivos que comprometam sua saúde.
Após atingirem 8 meses ou 1 ano de idade, passam a adotar uma postura corporal mais ereta, os alimentos oferecidos são mais espessos, pastosos e sólidos, mais difíceis de refluir. Nesta fase já estão com maior amadurecimento das suas defesas contra o refluxo e então diminuem os episódios de regurgitação. As "golfadas" quando nocivas constituem o refluxo patológico, verdadeiramente maléfico e está relacionado à distúrbios dos mecanismos naturais de proteção contra o refluxo. É uma condição de doença que causa dano às estruturas digestivas.
Acompanham-se de alterações na saúde do bebê como: dificuldade de ganhar peso, irritabilidade, choro intenso na posição deitada, soluços excessivos, salivação intensa, choro após as regurgitações, anemia, recusa alimentar, choro e desconforto durante as mamadas. Apresenta-se assim com sintomas mais marcantes. Em casos severos, pode ocorrer aspiração do conteúdo estomacal para o pulmão do bebê levando à pneumonia e até mesmo parada da respiração (apnéia).
Conselhos do gastroenterologista pediátrico:
• O bebê que vomita pode estar sofrendo de Doença do Refluxo associado ou não à Alergia Alimentar e outros distúrbios, por isso informe bem ao Médico sobre a história alérgica da família do bebê.
• Os bebês choram nos primeiros meses de vida, também por outros motivos, como cólicas, fome, frio. Estes sintomas não devem ser interpretados como refluxo sem uma investigação médica mais apurada.
• Mantenha o bebê no colo após as mamadas, em posição vertical por pelo menos 40 minutos. Se for necessário deita-lo após a mamada, coloque-o na posição deitado DE BARRIGA PARA CIMA, pois, segundo a Academia Americana de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Pediatria, e estudos confiáveis realizados em vários países, é a posição mais segura para evitar que a criança “sufoque” e tenha morte súbita.
•Nunca deixe o bebê mamando sozinho no berço. Para os bebês que tomam mamadeiras, a melhor posição é acomodados no colo durante a mamada. Não "sacuda" o bebê na intenção de niná-lo. Evite fraldas apertadas ou cinteiros.
•Ofereça ao bebê o Leite Materno exclusivamente até o sexto mês de vida, pois é mais facilmente digerido e apropriado ao seu crescimento, tem todos os nutrientes necessários, promove a imunidade, fortalece o vínculo mãe-filho colaborando ainda para minimizar os danos ao esôfago nos episódios de refluxo.