Revista Ampla - Ediçãom 30 - page 15

R e v i s ta A m p l a
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nar a multiplicação desse modelo. Em
sua apresentação, a médica contou
alguns casos clínicos e falou sobre o
funcionamento da equipe multidisci-
plinar que coordena. "Esse trabalho
só funciona em equipe. O médico só
consegue coordenar adequadamente
a saúde de seus pacientes e acom-
panhá-los de forma satisfatória com
uma equipe altamente especializa-
da", enfatizou.
Robert Janett, ligado à Cambrid-
ge Health Alliance e professor de Ha-
vard, esmiuçou um pouco mais sobre
a metodologia em APS e discutiu a
implementação do modelo aqui no
Brasil. No início de sua fala, Janett
lembrou que Harvard não trabalha só
com pesquisa de ponta, ela também
trabalha com prevenção. E a preocu-
pação nessa área tem aumentado.
De acordo com Janett, para a me-
dicina, um grande desafio vem sen-
do como tratar doenças crônicas. Os
números relativos a essa questão são
sempre preocupantes. Dados de 2007,
por exemplo, revelam que 72% das
mortes nos Estados Unidos estavam
relacionadas à obesidade, ao tabagis-
mo e à combinação do excesso de sal,
açúcar e manteiga. Outro dado assus-
tador é o fato de que 3% da popula-
ção é responsável pelo uso de 50% dos
recursos da saúde. Isso é preocupante
quando se pensa na imensa popula-
ção que precisa ser assistida e que os
recursos são limitados. Dessa forma,
alguém ficará sempre desassistido.
Por isso, a APS tem sido vista como
um caminho natural e seguro a ser tri-
lhado, a fim de que possa equacionar
de forma mais satisfatória as ques-
tões de saúde. "Na prática, o que já
se tem visto é que países com aten-
ção primária forte têm diminuição
de mortalidade prematura e pacien-
tes mais satisfeitos", frisou. Em sete
anos, com o trabalho em Boston, por
exemplo, eles conseguiram diminuir
1/3 das internações e o custo do se-
tor caiu em 15%, com o aumento de
medicação para doenças crônicas.
Luiz Gustavo Escada Ferreira, di-
retor administrativo-financeiro, da
Unimed Mercosul, reforçou a ideia da
necessidade de mudanças, na área de
saúde, ao abordar o binômio saúde-
-doença e ressaltar a importância do
espiritual, mental/emocional e físico
das pessoas. A visão dessas faces do
ser humano, segundo ele, vai refletir
na saúde e no cuidado. A APS tem em
vista esses aspectos e outras particu-
laridades do ser humano, que inclui o
autocuidado e utiliza essas questões a
favor para uma atenção mais integral.
APS no Sistema Unimed
Na segun-
da mesa-redonda, quando se tratou
mais especificamente da APS no Sis-
tema Unimed, foram apresentados
três cases. O primeiro a falar foi o
diretor clínico e médico de Família
do Núcleo Saúde da Família da Uni-
med Guarulhos, Rafael Nunes da Sil-
va, que apresentou detalhes sobre o
programa iniciado naquela Singular.
Segundo ele, o trabalho, na tentativa
de eliminar barreiras ao acesso, bus-
ca disponibilizar consultas médicas
presenciais no mesmo dia em que são
solicitadas. Do mesmo modo, faz bus-
ca ativa de pacientes com depressão,
ansiedade, dependência de álcool,
além dos rastreios oncológicos tradi-
cionais. Também procura identificar
riscos e necessidades de saúde antes
da procura voluntária pelo serviço e
realiza consultas em grupo (obesida-
de, por exemplo) e presta assistência
farmacêutica, a fim de que seja feita
conciliação medicamentosa.
Depois foi a vez de Heitor Togno-
li e Silva, da Unimed Belo Horizonte.
Em sua apresentação, Silva lembrou
a citação de William Osler de que
"tão importante quanto conhecer a
doença que o homem tem, é conhe-
cer o homem que tem a doença". E
tentou responder a uma pergunta que
tem sido bastante debatida no Siste-
ma nesses últimos dois anos: por que
discutir modelos de atenção à saúde?
Para ele, em primeiro lugar, há
que se considerar que a competição
por recursos nas cadeias de valor (e
entre elas) está aumentando: medica-
mentos x insumos x hospitais x médi-
cos. Além disso, cresce a insatisfação
e a desconfiança da sociedade com o
setor de saúde. Diante desse quadro,
reformas nos sistemas de saúde estão
em curso em todo o mundo. Isso por-
que a sustentabilidade dos atuais de-
senhos de sistemas públicos, privados
e mistos estão em voga.
Para Heitor Silva, "a ideia de um
modelo baseado em atenção primária
à saúde parece um caminho natural a
ser seguido, pelo fato de ser orienta-
do para atender às necessidades da
comunidade, servindo de primeiro
contato das pessoas com o sistema,
no qual os profissionais de saúde as-
sumem uma responsabilidade longitu-
dinal (continuidade) pelos pacientes,
e reconhecem suas necessidades em
amplo espectro, coordenando seu
cuidado em todas as ações de saúde".
Na Unimed BH, a implantação da
APS tem por objetivo a busca por
melhores resultados assistenciais a
custos que garantam a sua sustenta-
"Nos Estados
Unidos, o
acréscimo de um
médico da atenção
primária está
associado a 1,44
menos mortes por
10.000 habitantes".
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