Revista Ampla - Ediçãom 30 - page 17

R e v i s ta A m p l a
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Materiais
de alto custo
OPME constituem um fator crítico no setor de saúde
O médico Marcos Bosi Ferraz, es-
pecialista na área de Economia da
Saúde, da Unifesp, costuma fazer uma
comparação interessante: "A crise vi-
vida na Saúde nos dias de hoje pode
ser resumida com a seguinte pergunta:
como satisfazer às demandas de 2013
com os recursos de 1980 e problemas
de saúde de 1960, além dos problemas
de saúde contemporâneos?"
Esse é um problema brasileiro,
mas também afeta inúmeros países.
Todos buscando uma forma de otimi-
zar recursos para se atingir o melhor
resultado, para o maior número de
pessoas possível. Se isso ocorre no
âmbito dos governos, no âmbito da
saúde suplementar não é diferente.
O acesso de qualidade, garantido a
todas as pessoas do convênio, depen-
de dos recursos disponíveis e de como
a curva de gastos caminha.
Segundo Faustino Garcia Alferez,
diretor de Mercado da Unimed Paraná,
a sociedade necessita discutir o mo-
delo de saúde que precisa e pode ter.
"Setores de medicamentos e de mate-
riais (como próteses e órteses) preci-
sam ser regulamentados pelos órgãos
competentes, a fim de que seu uso
não ocorra de forma arbitrária, como
acontece muitas vezes", frisa. Ao que
a enfermeira, especialista em mate-
riais de alto custo, coordenadora de
Custos Assistenciais da Unimed Merco-
sul, Andrea Bergamini, complementa:
"Entre os pontos sensíveis do atendi-
mento em saúde estão a incorporação
acrítica de novas tecnologias, distor-
ção na cadeia produtiva de OPME (Ór-
teses, Próteses e Materiais Especiais
- como válvulas cardíacas e endopro-
tese, materiais usados em ortopedia,
em trauma e coluna, e cateteres, ba-
lões e guias cardíacos), práticas abu-
sivas e disparidades de preços, além
dos riscos na qualidade da assistência
oferecida à população".
As disparidades de valores e de
processos, quando o assunto é OPME,
chega a assustar. A diferença de cus-
to de um produto de um fornecedor
para outro, dependendo da região,
pode chegar até a 1.000%. E às vezes
é o mesmo produto. Outras vezes são
marcas diferentes, mas com a mes-
ma qualidade. "O que acontece? Não
conseguimos entender. É necessário o
esforço de todos para que a saúde não
se torne algo inviável", diz.
caso de polícia
No último Suespar
(Simpósio das Unimeds do Estado do
Paraná), que aconteceu em junho, o
médico Márcio Bichara, representan-
te do Conselho Federal de Medicina,
reconheceu que essa situação é caso
de polícia, ao envolver médicos e fa-
bricantes de OPME, "pois além de uma
falta ética, há também uma sonegação
de imposto. A gente pune, mas tem
que haver denúncia. Se tivermos de-
núncias com provas, esses profissionais
serão excluídos da classe médica".
A médica Denise Eloi Brito, gesto-
ra da Unidas, reforçou o coro, apre-
sentando uma reportagem em que se
levanta que 1/3 dos recursos do siste-
ma de saúde americano podem estar
envolvido em fraudes.
Para o médico Arlindo de Almeida,
presidente da Abramge, o uso segu-
ro e racional de OPME constitui-se
um dos grandes desafios hoje para a
saúde. Ele lembrou o levantamento
recente realizado pelo Hospital Al-
bert Einstein, que contraindicou 60%
das indicações de cirurgias de colu-
na, numa primeira opinião. "Nós não
podemos desprezar a alta tecnolo-
gia, porque ela realmente trouxe um
aumento da qualidade de vida, mas
não podemos desperdiçar recursos
utilizando de forma incorreta, porque
isso pode fazer mais mal do que bem
ao paciente".
Bruno Sobral Carvalho, diretor de
Desenvolvimento Setorial da Agên-
cia Nacional de Saúde Suplementar
- ANS, reconheceu que o problema é
bastante grave. Há várias questões
que precisam de solução, a própria
judicialização da saúde é uma delas.
O Estado precisa ajudar os juízes a
terem uma segunda opinião porque a
posição deles é bastante difícil.
Outra questão que deveria ser
caso de polícia para ele é a dos mé-
dicos que recebem malas de dinheiro
dentro dos centros cirúrgicos. "Al-
guns nem tocam nos pacientes, são os
médicos das empresas de OPME que
fazem a cirurgia. Nós ainda não te-
mos uma lei que puna esse médico. A
sociedade precisa discutir isso. E isso
ainda é mais grave se acontecer no
Sistema Unimed, porque é sócio rou-
bando sócio", criticou.
Para ele, assim como para os de-
mais debatedores dessa mesa, en-
quanto a saúde não for encarada
como responsabilidade de todos os
atores envolvidos (Governo, operado-
ras, profissionais de saúde, fornece-
dores, prestadores, beneficiários) e
também como uma questão primor-
dial que exige reflexão de toda a so-
ciedade, pouco se avançará.
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