Revista Conexão | Edição 13 - page 16

Revista Conexão - Abril / Maio / Junho de 2014 - Edição 13
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em determinadas ocasiões. Hoje, a Sele-
ção Brasileira joga muito, praticamente o
ano todo, e, evidentemente, todos esses
profissionais têm outros compromissos.
Então, nos organizamos em um grupo de
trabalho, em que eu, o Rodrigo e o Edílson
assumimos a parte dos jogos, normal-
mente, feita por um traumatologista, e o
Serafim dá o suporte da área clínica nas
competições. Enquanto isso, a Andréia Pi-
canço, médica do esporte, me ajuda muito
na parte de controle dessa estrutura.
Quem dá mais trabalho: os novatos,
combaixa resistência física, ou os jogado-
res mais velhos, devido à idade?
Todas as competições, em nível sul-
americano ou intercontinental, acontecem
entre os meses de junho e julho. Esse é o
momento em que o atleta está mais des-
gastado, pois a maioria deles joga no fute-
bol europeu, que entra de férias nesse
período. Então, a que é preciso estar
atento? Para os atletas comuma faixa etá-
ria um pouco mais elevada, temos que dar
conforto, demaneira que eles possampar-
ticipar da competição sem se desgastar
tanto quanto os mais jovens. Existe um
trabalho muito específico para cada joga-
dor e para cada posição, que tem um des-
gaste diferente e necessita de um cuidado
específico. Cabe ao médico conversar com
a comissão, o preparador físico e o fisiolo-
gista e dividir comeles a responsabilidade
em encontrar o que há de melhor para
esse atleta em termos de treinamento,
para que ele renda nas competições.
Os jogadores de cada seleção apre-
sentam um biótipo diferenciado, e é per-
ceptível uma mudança de estrutura
corporal entre aqueles que atuam no
Brasil e os que saem para jogar na Eu-
ropa. Existe um trabalho diferenciado
entre as equipes médicas nos diferentes
continentes?
Pensando na Seleção Brasileira, não
há tempo hábil para modificar qualquer
tipo de trabalho. Nosso tempo de convívio
para a Copa doMundo, se tudo der certo e
formos até a final, será de 50 dias. Nesse
período, é impossível mudar o trabalho. O
que pode ser feito, com certa tranquili-
dade, é o diagnóstico de alguma deficiên-
cia do atleta e a solicitação para que ele
seja tratado no clube, mas isso também
depende do trabalho de cada time. É fun-
damental que as deficiências de cada
atleta sejam observadas, nos aspectos fí-
sico e estrutural, para que ele possa ren-
der melhor para a equipe. A metodologia
nos clubes é diferente entre Brasil e Eu-
ropa. Inclusive, temos um ritmo de treina-
mento maior do que os europeus. Os
próprios jogadores da Seleção Brasileira
comentamque treinammenos por lá. Algo
que é feito nos clubes de fora e que está se
tentando implantar no Brasil é ter um es-
paço maior no início da temporada. Hoje, a
nossa pré-temporada, nos chamados clu-
bes grandes, tem, emmédia, 10 a 12 dias, o
que émuito pouco para preparar umatleta.
O ideal seria de três a quatro semanas,
como acontece no futebol europeu.
Em sua carreira na seleção, o senhor
passou por algum caso de jogador com
lesão grave, ou até mesmo com a carrei-
ra considerada finalizada por causa de
algum trauma, e foi possível reverter a
situação?
O nosso grande sucesso foi ter colo-
cado o Ronaldo e o Rivaldo na Copa do
Mundo de 2002. Eram atletas que esta-
vamsendo vistos como incapacitados para
jogar o torneio. Nós conseguimos colocá-
los em condições físicas, e eles desenvol-
veram o trabalho deles. O Rivaldo, na
época, estava desacreditado pelo Barce-
lona, diziam que ele precisava operar o
joelho, mas nós fomos contra; enquanto o
Ronaldo vinha de uma série de situações
incompatíveis, com lesõesmusculares, de-
pois de ter o joelho recuperado. Para isso,
precisávamos dar crédito para que eles
fossemà Copa doMundo, e o Felipão (téc-
nico da Seleção) acreditou, levou os dois, e
eles forammuito bem. Foi um trabalho do
Departamento Médico e da fisioterapia.
O senhor se preocupa com a gestão
de sua imagem? Por exemplo, se uma ci-
rurgia com um jogador dá certo, pode se
tornar umherói; se dá errado, pode virar o
vilão. Como lida com isso?
Acredito que essa situação não se res-
tringe apenas à minha imagem. Isso acon-
tece com todo profissional que se propõe
a trabalhar comsituações públicas e, nesse
caso, o futebol, que é uma paixão brasi-
leira. O profissional ser visto como herói ou
vilão é uma questão de interpretação. O
mais importante é ter ciência de que está
fazendo o melhor para o atleta, desempe-
nhando sua função dentro de conceitos
éticos e profissionais, com a lisura que re-
cebe em sua formação. Hoje, o profissional
da áreamédica temque ser comprometido
com aquilo que se propõe e com a ciência.
Ele tem que estar por dentro das novas
tecnologias e técnicas e conceitos moder-
Luiz Felipe Scolari e José Luiz Runco repetem, no Brasil, a parceria que levou a
Seleção Brasileira ao pentacampeonato mundial em 2002, no Japão e Coreia do Sul
CAPA / ENTREVISTA
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