Viva - Edição Saudade - Unimed Vitória - page 50

T
udo que amamos, desejamos que permaneça para
sempre. Conferimos incontinenti beleza e, comoma-
gistralmente se expressou o Professor Rubem Alves,
ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade.
Mas tudo que amamos submete-se a marca do tempo, é
efêmero, num belo momento, se vai. Chega a saudade. Exa-
tamente quando falta um pedaço de nós. O poeta francês La-
martine reforça nosso pensar ao dizer: "Algumas vezes quando
umapessoa está faltando, omundo inteiroparecedespovoado".
As recordaçõesnãopovoamnossaso-
lidão. Nãobastam, pelo contrário, fazem-
-na mais profunda. Umberto Eco imagi-
nou da seguinte forma: "A ausência está
para o amor, como o vento para o fogo;
apaga o pequeno, embrasa o grande".
Sinto saudade quando caminho e o ausente me acompa-
nha. Não desgruda demim. Só duas máximas minimizamum
pouco: "É melhor saudade, que caminhar sozinho" (Peninha),
bem como, "Eu sou aquilo que perdi" (Fernando Pessoa).
A saudade leva a melancolia e esta, a um certo prazer de
estar triste. Khalil Gibran compara a tristeza com um muro
entre dois jardins. Nas escrituras sagradas encontramos o
seguinte: "Melhor é a tristeza do que o riso, porque com a
tristeza do rosto se faz melhor o coração".
A vida tem a cor que você pinta. Aprender a conviver com
as realidades é uma essencial providência. As realidades sim,
poderão ser boas ou não, trazer revolta ou saudade, daquele
passado ou daquela pessoa.
Ohomemvive de suas paixões e dura em face de sua sabe-
doria. Saudade dói, provavelmente a razão pela qual o escritor
Por
AucélioMelo de Gusmão
AucélioMelo de Gusmão
é médico
anestesista, Diretor de Marketing e
Desenvolvimento da Unimed Brasil e
Acadêmico da Academia Paraibana de
Medicina. É autor dos livros O Tempo e a
Vida e Leituras doMeu Tempo.
Bastos Tigre comparou com um espinho cheirando a flor.
Mais uma vez RubemAlves. Para ele existemdois tipos de
tristeza, a tristeza triste e a tristeza alegre. A tristeza triste é
aquela sentida pela perda de um amigo valoroso, que tinha
um lugar reservado no coração, e a tristeza alegre é por ele
ter existido.
A vida é assim, onde há sentimento, há dor, havendo la-
cuna, haverá saudade. Para o coração, não há nada pequeno,
tudo repercute, de certa forma, doerá.
Saudade é um buraco dolorido na
alma. A presença marcante de uma au-
sência. A falta de algo ou de alguém
que nos foi arrancado, mas que onde
quer que a gente vá, ela vai também.
É quando aprendemos o que é amor.
É o desejo sensacional pelo reencontro, impossível, mas
que traria a alegria de volta. Já se comparou a saudade com a
fome. A fome também é um vazio, tal qual a saudade. A fome
é a saudade do corpo. A saudade é a fome da alma.
A beleza e o amor, duradouros ou não, representam uma
eternidade. Daí um espaço ser sagrado quando está cheio de
ausência. É o lugar da saudade!
Saudade:
A fome da Alma
FELICIDADE
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REVISTA VIVA
Sinto saudade quando
caminho e o ausente
me acompanha. Não
desgruda de mim.
foto
José Alberto Jr.
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