Transiluminação da cabeça: aspecto complementar importante na avaliação neurológica do neonato
Resumo
Os autores descrevem um caso clínico em que a transiluminação da cabeça do neonato foi uma ferramenta importante na avaliação terapêutica de um recém-nascido, com diagnóstico pré-natal ultrassonográfico de hidrocefalia, concluindo ser ainda uma técnica útil, segura, não invasiva e praticamente sem custos.
Introdução
O exame e a avaliação do recém-nascido realizado com boa técnica são elementos importantes para um bom atendimento ao paciente. Atualmente, muitas vezes são realizados atendimentos baseados mais em recursos tecnológicos. Pretende o presente artigo resgatar uma técnica útil na avaliação do neonatologista.
Relato de caso:
Paciente recém-nascido, sexo masculino, proveniente de Chapecó, Santa Catarina, nascido de parto cirúrgico em 21 de maio de 2005. Mãe com 25 anos em bom estado geral, realizou pré-natal na rede pública, onde foi submetida a uma ultrasonografia em 18 de maio de 2005 (figura 1), que detectou a presença de hidrocefalia bilateral grave. A gestação cursou sem outras anormalidades, tendo procurado atendimento obstétrico na data do parto, com 40 semanas de gestação, sendo-lhe indicada cesareana.
O recém-nascido pesou 3.030g, estatura 49 cm, 37 cm de perímetro cefálico, 35cm de perímetro torácico. A avaliação da vitalidade demonstrou apgar 9 no primeiro minuto e 9 no quinto minuto, mantendo-se em bom estado geral, ativo, corado, com boa perfusão, pulsos cheios, reflexos normais inclusive com clono de tornozelos, com menos de 4 movimentos a não ser reflexos de Moro, com estímulo mínimo e choro discretamente estridente. Tal estado clínico indicava um recém-nascido normal, o que levou a hipótese de erro diagnóstico ou outra intercorrência na ultra-sonografia pré-natal.
A conduta pediátrica inicial foi solicitar nova ultra-sonografia e tomografia cerebral, que foi marcada para realização em dois dias, por particularidades do atendimento de final de semana da hospital, pois tratava-se de um sábado. No intuito de antecipar o prognóstico para os pais, optou-se por realizar a transiluminação da cabeça para ratificar ou não o diagnóstico intra-útero. Para tanto, colocou-se o recém-nascido num quarto escuro e, após adaptação de dois minutos, usou-se uma lanterna comum, potente, que evidenciou transiluminação cerebral completa, confirmando o diagnóstico (figura 2). Após o procedimento, os familiares foram informados a respeito do prognóstico, de uma forma mais segura para o pediatra.
Em 23 de maio de 2005, uma ultrassonografia evidenciou acentuada hidrocefalia do sistema supratentorial, com afilamento do parênquima cerebral e características obstrutivas de aqueduto central. Fossa posterior preservada Na mesma data a tomografia cerebral evidenciou hidrocefalia máxima com manto cortical menor que 1 cm (figura 3).
Discussão
Nos dias atuais, a questão de custos toma maior envergadura, devendo o profissional ter espírito crítico para buscar um ponto de equilíbrio, adotando as novas tecnologias, sim, mas sem ter medo de conservar o que for bom do método antigo.
O método de transiluminação é rápido, simples e de baixo custo, podendo rastrear e alertar para possíveis erros diagnósticos em procedimentos ante-natais. A avaliação neurológica do recém-nato torna-se mais precisa utilizando tal procedimento, pois pode evidenciar facilmente anomalias cerebrais, levando a uma conduta mais precisa e segura, no atendimento de urgência e emergência. Sugere-se assim, a utilização do método como rotina, independente das condições neurológicas, especialmente em casos de adoção, evitando conflitos posteriores.
Fonte: Complexo Unimed Chapecó