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Novembro Azul 2021

Um diagnóstico precoce pode virar o jogo. Faça seus exames e previna-se.
        30 de novembro, 2021

O mês de Novembro encerra reforçando o cuidado com a saúde do homem e a importância da prevenção para que um câncer de próstata possa ser identificado precocemente, aumentando as chances de um tratamento eficaz e até mesmo a cura.

O câncer de próstata é o segundo câncer mais frequente no homem, ficando atrás apenas do câncer de pele e uma das mais frequentes causas de óbito por câncer na população masculina de nosso país. Portanto, um assunto que merece atenção, não apenas no mês da campanha, mas o ano inteiro.

Convidamos o urologista cooperado da Unimed Marília, Dr. Geraldo Benedito Gentile Stefano, para esclarecer dúvidas que possam surgir acerca deste assunto. 

Unimed Marília: Quais os sintomas que o paciente geralmente apresenta?

Dr. Geraldo: Os sintomas do câncer de próstata são indistinguíveis dos sintomas da hiperplasia prostática benigna, ou seja, dificuldade na eliminação da urina, com jato urinário fraco, intermitente e exigindo esforço para proceder a micção completa. Podem sobrevir complicações desta obstrução parcial que se caracterizam por micções mais frequentes e em menor volume, urgência e até incontinência. Podemos ter infecções urinárias pelo aumento do resíduo pós miccional e até obstrução completa do colo vesical/uretra posterior, com a instalação de bexigoma ou retenção completa de urina. Estes sintomas e sinais , também ocorrem na hiperplasia prostática benigna, mas no câncer de próstata, evoluem de forma mais rápida. 

Unimed Marília: Como identificar o câncer de próstata? 

Dr. Geraldo: A busca ativa ou screening (diagnóstico precoce) para o câncer de próstata divide opiniões entre os estudiosos e os especialistas, porém a nosso ver é uma ferramenta poderosa para o diagnóstico precoce e de um tratamento eficiente. O diagnóstico é feito através da consulta clínica, dosagem do PSA (exame de sangue), toque retal e se necessário exames de imagem (ressonância nuclear magnética multiparamétrica), indicando a localização das alterações para a realização de uma biópsia, que é onde ocorre o diagnóstico “de certeza” do câncer de próstata.

Unimed Marília: Esta é uma doença genética ou qualquer um pode desenvolver?

Dr. Geraldo: Qualquer homem pode desenvolver um câncer de próstata, porém existem alguns fatores que aumentam a predisposição a este tipo de câncer: idade, raça negra e antecedentes familiares, ou seja, ascendentes diretos (avô, pai, tios e irmãos) que desenvolveram a doença antes dos 70 anos. Existe portanto, uma característica geneticamente transmitida que deve ser investigada na história clínica, mais precisamente nos antecedentes familiares. Há que se ressaltar, que como esta é uma doença cuja incidência aumenta com a idade, o achado de câncer de próstata após a sétima ou oitava década, não configura predisposição genética a este tipo de neoplasia.

Unimed Marília: Qual o tratamento para o câncer identificado em fase inicial?

Dr. Geraldo: Com o advento do PSA e das diversas possibilidades de tratamento e mesmo cura quando a doença é diagnosticada precocemente, houve uma mudança de paradigma e atualmente a imensa maioria dos casos tem diagnóstico precoce. Hoje, estudam-se novos marcadores e características histológicas com o intuito de prever e compreender qual o comportamento destes tumores e, a partir daí, procurar selecionar qual o melhor tratamento. A urologia, como toda a medicina, busca ser cada vez menos invasiva e diminuir cada vez mais a morbidade dos tratamentos. Os paciente com câncer localizado podem ser tratados com cirurgia aberta convencional (prostatectomia radical), prostatectomia videolaparoscópica (cirurgia por vídeo), prostatectomia robótica, e também radioterapia externa (IMRT é o padrão ouro), braquiterapia ou combinação de ambas. Todos estes métodos são muito eficientes e podem ser oferecidos como opção, sendo que o médico vai indicar sempre o método de maior eficiência para o paciente, ou seja, cada paciente e cada neoplasia são únicos e a escolha do tratamento deve ser individualizada em decisão compartilhada com o médico e o paciente.

Unimed Marília: Segundo informações da Sociedade Brasileira de Urologia, em fase avançada, o câncer de próstata não pode ser eliminado completamente. Mas pode ser neutralizado bloqueando a ação da testosterona ou castração cirúrgica. De que forma é feito esse bloqueio do hormônio e a cirurgia? 

Dr. Geraldo: Para aqueles casos onde a neoplasia já apresenta disseminação por outros órgãos do organismo, existem tratamentos baseados na supressão da testosterona (hormônio masculino responsável pelo multiplicação das células prostáticas) e também por outros quimioterápicos, quando o tumor tornar-se resistente à castração. Quando se fala em castração, em 99% dos casos, estamos nos referindo à castração química, realizada com medicamentos que têm a capacidade de inibir a produção da testosterona ou, impedir sua ação nos órgãos alvos ou as duas ações. Há algumas décadas, esta castração era realizada cirurgicamente, mas hoje, é preferencialmente realizada através de medicamentos. O paciente nesta situação tem um tratamento eficiente para seu problema, mas sofre os efeitos secundários da castração e necessita de apoio psicológico tanto dos profissionais da área de saúde, quanto dos familiares, para conviver da melhor forma possível com a nova situação.

Unimed Marília: A vida após o câncer de próstata: "Estou curado. Preciso continuar fazendo os exames periodicamente?”

Dr. Geraldo: Após o diagnóstico e o tratamento do câncer de próstata localizado, o paciente deve conviver com uma rotina o mais normal possível, desenvolvendo suas atividades na sociedade e no convívio familiar. Nesta rotina, encontra-se o seguimento (follow-up) onde os profissionais trabalham os diversos aspectos desta nova realidade. Naqueles pacientes operados, tratar as complicações advindas do procedimento, principalmente incontinência e disfunção erétil (quando acontecerem) e, monitorar o principal marcador que é o PSA, no sentido de identificar qualquer sinal de recidiva da doença. Naqueles casos de tratamento clínico, monitorar os efeitos colaterais, procurando torná-los o mais brandos possível, ajustando doses, mudando princípios ativos e monitorando a progressão da doença com PSA e exames de imagem.

Embora nas últimas décadas, os progressos no diagnóstico e tratamento tenham sido espetaculares, ainda há muito por vir. Existe uma tendência em identificar tumores que teriam comportamento agressivo e que merecem tratamento agressivo e tumores que são indolentes e portanto podem ser acompanhados , em algumas situações até “sem tratamento”. Existem também novas tecnologias para tratamento do câncer localizado, sem a retirada radical da glândula utilizando outras fontes de energia. Os protocolos de tratamento medicamentoso, trazem evolução constante de medicamentos e combinações que permitem melhor sobrevida e melhor qualidade de vida. Concluindo, estamos longe de vencer a guerra contra esta doença, mas já vencemos muitas batalhas e desafios e o número de pacientes tratados, curados ou estacionados supera os que evoluem para óbito por câncer de próstata. Portanto, devemos incentivar a ida ao urologista, ao clínico, ao geriatra ou ao médico de confiança pois é uma oportunidade de ter um olhar e um cuidado com a saúde do homem.