Precisamos refletir sobre a leitura que
se faz da matemática na saúde. De fato, a
receita da Saúde Suplementar no Brasil
subiu cerca de 188% no período de 2003
a 2011, segundo dados da Agência Nacio-
nal de Saúde Suplementar (ANS/2012). Mas
a verdade é que as despesas cresceram
mais. Foram 192% de aumento nos gastos,
R$ 67,1 bilhões de custos assistenciais nes-
ses oito anos, contra 188% de aumento das
receitas totais das operadoras em atividade
nos país. Um
gap
desvantajoso, ao contrário
do que se costuma exaltar, sobretudo num
mercado imperfeito e que recebeu mais de
16
milhões de novos beneficiários, justo
quando as regras da regulamentação fica-
ram mais apertadas. Na saúde, é preciso
fazer a conta diferente.
De 2003 a 2011, passamos de 32 mi-
lhões para 48 milhões de brasileiros com
planos de saúde. Evidente que foram esses
clientes que trouxeram o "aumento da re-
ceita" correspondente ao período. Mas,
como em toda relação de compra e venda,
foram eles que levaram de volta a maior
parte desse montante. Novos clientes ele-
vam o faturamento das empresas, mas as
despesas também. Em economia, não existe
mágica nem almoço grátis. As despesas
per capita
na saúde suplementar saltaram
de R$60, em 2003, para exatos R$118,
em 2011. Isso mesmo: de R$60,24 para
R$117,43, quase o dobro.
Mas, repito, na saúde não se pode es-
tabelecer uma relação tão direta, como in-
sistem alguns, entre a receita auferida pelas
operadoras de qualquer natureza e o au-
mento de honorários médicos na mesma
proporção. Esse raciocínio simplista ignora
a composição dos custos assistenciais e ad-
ministrativos, enquanto órgãos federais pe-
nalizam as operadoras com exigências de
ativos garantidores e provisões muito acima
de sua capacidade econômica e financeira.
Isso sem detalhar os desequilíbrios atuariais
das carteiras, decorrentes de ações judiciais
cada vez mais frequentes.
Destaco ainda que, nas cooperativas,
cuja lógica, por mais de 40 anos, foi distribuir
sobras, os ativos garantidores exigidos pela
ANS têm se tornado um fardo pesado de-
mais, incompatíveis com a natureza jurídica
dessas instituições. E eles têm tirado o sono
de seus gestores e dirigentes, na medida em
que retiram das cooperativas médicas, neste
momento de verticalização do setor, a sua ca-
pacidade de investimento em recursos pró-
prios e, consequentemente, a competitivida-
de. Os médicos, historicamente a parte mais
fraca desta complexa cadeia de valores da
saúde, precisam entendê-la para fortalecer
suas cooperativas e unir forças para a rever-
são deste quadro, altamente desfavorável ao
exercício profissional.
Os custos assistenciais crescentes com
OPMEs (órteses, próteses, materiais espe-
ciais e medicamentos), despesas hospitala-
res, SADTs (serviços auxiliares de diagnós-
tico e terapias), reservas financeiras exigi-
das, judicialização da saúde e a forte pres-
são do mercado, cada vez mais por
qualidade a preços compatíveis, têm invia-
bilizado uma melhor remuneração profis-
sional. Associar simplesmente o aumento
observado nas receitas das cooperativas
médicas, em um determinado período, às
necessidades de incremento dos honorá-
rios médicos, desconsiderando os demais
componentes dos custos assistenciais e ad-
ministrativos, é um equívoco gigantesco.
É preciso compreender completamente
o fluxo financeiro da saúde para racionalizar
custos e remunerar melhor seus profissionais,
agregando valor para o cliente, que, ao final,
é quem paga a conta. Precisamos de uma
melhor assistência, de um novo modelo que
substitua o que aí está. Essa é uma missão
para as cooperativas médicas, dos médicos e
das entidades de classe.
*
Hugo Borges
Médico anestesiologista e
presidente da Unimed Juiz de Fora
e remuneração médica
Custo saúde
ARTIGO
7
Federação das Unimeds do Estado de Minas Gerais