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Artigo - Lena Castello Branco Boticas e Boticários

Artigo - Lena Castello Branco Boticas e Boticários

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As boticas ou farmácias antigas tinham certo clima de mistério, com balanças de precisão, almofarizes, aparelhos que moldavam cápsulas, tubos de vidro e frascos bem dispostos nos armários. O cheiro de ervas, as raízes e os pós coloridos contribuíam para torná-las fascinantes, bem como a figura circunspecta dos boticários, pessoas socialmente prestigiadas. 
 
Em Vila Boa de Goiás, desde a segunda metade do século XVIII, boticas funcionaram ainda que precariamente, pois não havia profissionais da área habilitados na região. Para suprir essa carência, o Conselho Geral da Província resolveu que o Hospital São Pedro de Alcântara passaria a dispor de um boticário que, além de “manipular remédios”, deveria “ensinar Química e Farmácia a todas as pessoas, que se dedicarem a aprender, dando aula três horas por dia”. O “professor” cientificaria o presidente da Província “do número de seus discípulos, sua aplicação, adiantamento e conduta”[1].   
 
Não há dados sobre essa “aula”, primeira tentativa de ensinar Farmácia em Goiás.  Ao que tudo indica os responsáveis pela botica do hospital transmitiam seus conhecimentos e experiência aos “praticantes” ou aprendizes, de maneira informal.
 
No início do século XX, além da capital federal, Rio de Janeiro, os locais mais procurados pelos goianos para estudar farmácia eram São Paulo e Ouro Preto. A Escola de Farmácia de Goiás foi fundada em 1922 por um grupo de farmacêuticos e médicos da Cidade de Goiás[2]; como instituição particular, cobrava mensalidades e taxas, mas recebia também subvenções governamentais. No ano seguinte, atendendo a sugestão da imprensa local, foi criado o curso de Odontologia (BRETAS, 1991, p. 527).
 
A Escola funcionou, inicialmente, em dependências do Hospital São Pedro de Alcântara; posteriormente, transferiu-se para sede própria ao lado da Casa de Câmara e Cadeia, um chalé de dois pavimentos, cuja arquitetura destoava do conjunto setecentista do Largo do Chafariz. Os diplomas expedidos eram reconhecidos pelo Estado de Goiás, podendo ser validados perante o governo federal.
 
Com a vitória da Revolução de 1930 e a mudança do grupo político dirigente no Estado, foram canceladas as subvenções oficiais à Escola de Farmácia e Odontologia de Goiás e os respectivos cursos findaram melancolicamente.
 
Efetivada a mudança da capital do Estado (1935), dez anos depois foi fundada, também por particulares[3], uma nova Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goiás. Instalada provisoriamente em dependências da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia[4], transferiu-se na década seguinte para prédio próprio, no Setor Universitário. Posteriormente, integrou-se à Universidade Federal de Goiás (1960), onde viria a desmembrar-se em unidades autônomas, de Farmácia e de Odontologia, que se tornaram conhecidas pelo excelente nível de ensino.
 
BIBLIOGRAFIA
Periódicos:
Matutina Meiapontense, n. 33, p.2-3. Meia Ponte, 15 jun 1830.
MELLO, Augusta Faro Fleury de. A primeira Escola de Farmácia de Goiás. In Revista
Goiás Cultura a.2 n. 6, 2002, p. 89-92.  Goiânia, Conselho Estadual de Cultura.
 
Livros:
BRETAS, Genesco Ferreira. História da Instrução Pública em Goiás. Coleção Documentos Goianos n. 1. Goiânia: CEGRAF/UFG, 1991.
FREITAS, Lena Castello Branco Ferreira de. (Org.) Saúde e doenças em Goiás. A Medicina possível.  Uma contribuição à História da Medicina em Goiás. Goiânia, Ed. UFG, 1999.

[1]  Matutina Meiapontense, n. 33, p.2-3. Meia Ponte, 15 jun 1830. Instituídos pela Constituição do Império do Brasil (1824), os Conselhos Gerais das Províncias tinham a finalidade de propor, discutir e deliberar sobre negócios do interesse destas; foram extintos pelo Ato Adicional (1834) e substituídos pelas Assembléias Legislativas Provinciais.
[2] Foram fundadores da Faculdade de Farmácia de Goiás os farmacêuticos Agnelo Arlington Fleury Curado e Constâncio Gomes de Oliveira, e o major-farmacêutico Otaciano Crisóstomo de Souza Moreira.  Entre os médicos: Brasil Ramos Caiado, Agenor Alves de Castro, Antônio Borges dos Santos e Lincoln Caiado de Castro (Bretas, p. 527).
[3] Foram fundadores da nova Faculdade de Farmácia e Odontologia de Goiás, em Goiânia, os farmacêuticos Rômulo Rocha, Carlos Augusto de Godoy e Agnelo Arlington Fleury Curado, seu primeiro diretor; os candidatos a alunos, Marinho Lino de Araújo e Ramiro Campos Meireles também tiveram papel destacado no empreendimento. (Bretas, idem).
[4] Fundada em 1937 pela Sociedade de São Vicente de Paulo,com o apoio de D. Gercina Borges Teixeira,  esposa do Interventor Pedro Ludovico Teixeira.
 


Rosane Rodrigues da Cunha