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Pensar Unimed

| Outubro de 2016 - 15

que nada têm a ver com a re-

alidade”, provocou Ruy Cas-

tro. Para ele, não se trata de

ter uma literatura em crise,

mas a situação geral do co-

mércio e da economia. “Livro

é um produto, mas perdeu

espaço para outras atrações

mais fáceis e palatáveis”.

“Acham normal pagar cem

reais ou mais para comer

mal e ser mal atendido, mas

acham caro pagar 60 reais

por um livro que os alimen-

ta por anos”.

Indignado com a situação

atual do país, Castro criticou

tambémos colegas de classe:

“É espantoso que pessoas da

classe artística e intelectual,

mentes pensantes, as quais

eu gosto e admiro, se po-

sicionem contra o golpe e

contra o impeachment, e ao

mesmo tempo não queiram

a Dilma de volta”.

Psiquiatra, autor e rotei-

rista, Contardo Calligaris,

como bom italiano, foi pre-

sença passional e quase

polêmica. Iniciou sua apre-

sentação dizendo que não

gostava de formalidades e

que seguir padrões preesta-

belecidos é imoral. “A lite-

ratura foi a única educação

moral que eu tive. Venho de

um meio em que qualquer

registro normativo moral

era considerado desprezí-

vel”, alfinetou.

Com uma série de exem-

plos e críticas ao pensa-

mento coletivo – “tudo que

é coletivo, para mim é sus-

peito” –, Calligaris defendeu

a ideia de que a literatura é

um antídoto contra a prisão

do pensamento, é a liberda-

de das vidas e emocionou-

-se ao citar o caso de uma

paciente com uma doença

grave e que havia morrido

muito jovem, que lhe dei-

xou um diário de presente.

Nesse diário a personagem

não era a paciente real. Era

uma menina saudável que

fazia tudo que a paciente

terminal jamais poderia.

“Literatura é a grande porta

do sonho, do desejo possí-

vel”, concluiu em lágrimas.

Ruy Castro:

‘A melhor biografia para retratar o Brasil

de hoje seria a do Lula’

P

ara o biógrafo Ruy Castro, autor de obras como ‘O

Anjo Pornográfico’ (a vida de Nelson Rodrigues),

‘Estrela Solitária’ (sobre Garrincha) e ‘Carmen’ (sobre

Carmen Miranda), o melhor personagem para narrar

o momento histórico pelo qual o Brasil passa seria o

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Questionado se o ex-mandatário seria narrado

como ‘herói ou vilão’, Castro dispara: “vilão, claro! Meu

trabalho, como biógrafo, não é poupar ninguém, mas

narrar os fatos, do ‘A’, ao ‘Z’. Lula que aguente o que

fez”, resume. Sobre o futuro do Brasil, Ruy Castro diz

acreditar que as coisas vão melhorar com a saída do

governo da presidente Dilma. “Pelo menos agora, sa-

bemos do tamanho do rombo e devemos trabalhar, a

partir disso, com cenários reais”, analisa. Ele completa

afirmando que, sob o governo interino do presidente

Temer, o País passa a contar com “pessoas mais con-

fiáveis”.

Foto: Nilton Santolin

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