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que nada têm a ver com a re-
alidade”, provocou Ruy Cas-
tro. Para ele, não se trata de
ter uma literatura em crise,
mas a situação geral do co-
mércio e da economia. “Livro
é um produto, mas perdeu
espaço para outras atrações
mais fáceis e palatáveis”.
“Acham normal pagar cem
reais ou mais para comer
mal e ser mal atendido, mas
acham caro pagar 60 reais
por um livro que os alimen-
ta por anos”.
Indignado com a situação
atual do país, Castro criticou
tambémos colegas de classe:
“É espantoso que pessoas da
classe artística e intelectual,
mentes pensantes, as quais
eu gosto e admiro, se po-
sicionem contra o golpe e
contra o impeachment, e ao
mesmo tempo não queiram
a Dilma de volta”.
Psiquiatra, autor e rotei-
rista, Contardo Calligaris,
como bom italiano, foi pre-
sença passional e quase
polêmica. Iniciou sua apre-
sentação dizendo que não
gostava de formalidades e
que seguir padrões preesta-
belecidos é imoral. “A lite-
ratura foi a única educação
moral que eu tive. Venho de
um meio em que qualquer
registro normativo moral
era considerado desprezí-
vel”, alfinetou.
Com uma série de exem-
plos e críticas ao pensa-
mento coletivo – “tudo que
é coletivo, para mim é sus-
peito” –, Calligaris defendeu
a ideia de que a literatura é
um antídoto contra a prisão
do pensamento, é a liberda-
de das vidas e emocionou-
-se ao citar o caso de uma
paciente com uma doença
grave e que havia morrido
muito jovem, que lhe dei-
xou um diário de presente.
Nesse diário a personagem
não era a paciente real. Era
uma menina saudável que
fazia tudo que a paciente
terminal jamais poderia.
“Literatura é a grande porta
do sonho, do desejo possí-
vel”, concluiu em lágrimas.
Ruy Castro:
‘A melhor biografia para retratar o Brasil
de hoje seria a do Lula’
P
ara o biógrafo Ruy Castro, autor de obras como ‘O
Anjo Pornográfico’ (a vida de Nelson Rodrigues),
‘Estrela Solitária’ (sobre Garrincha) e ‘Carmen’ (sobre
Carmen Miranda), o melhor personagem para narrar
o momento histórico pelo qual o Brasil passa seria o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionado se o ex-mandatário seria narrado
como ‘herói ou vilão’, Castro dispara: “vilão, claro! Meu
trabalho, como biógrafo, não é poupar ninguém, mas
narrar os fatos, do ‘A’, ao ‘Z’. Lula que aguente o que
fez”, resume. Sobre o futuro do Brasil, Ruy Castro diz
acreditar que as coisas vão melhorar com a saída do
governo da presidente Dilma. “Pelo menos agora, sa-
bemos do tamanho do rombo e devemos trabalhar, a
partir disso, com cenários reais”, analisa. Ele completa
afirmando que, sob o governo interino do presidente
Temer, o País passa a contar com “pessoas mais con-
fiáveis”.
Foto: Nilton Santolin
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