Revista UBR_n11 - page 43

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Junho | 2014 . N
o
11 . Ano4 . REVISTAUNIMEDBR
A
alimentação é uma ne-
cessidadebásicadosseres
vivos. Para os humanos,
ao longo dos tempos, mais do
que manter o corpo em funcio-
namento, o ato de comer ganhou
sentidos amplos, ligados a cultu-
ra, classe social, questões religio-
sas, rituais de passagem, festejos
e, também, ao prazer de saborear
umbomprato.
Aprópria história da humani-
dade tem, emparte, relaçãocoma
históriadaalimentação, tendoem
vista que amigraçãode plantas e
animais e atémesmo a conquista
e demarcação de territórios têm
ligaçãocoma fomeeanecessida-
dedemanter-sevivo.
"Desde que nos conhecemos
comoespécie,oprazeresteve inti-
mamente ligado ao atode comer.
Agrandediferença é que, por um
longo período (da Antiguidade à
IdadeMédia),prazeresaúdeesta-
vamdiretamente ligados.Nãoha-
viadistinção.Foiapartirdoséculo
17, especialmenteno século 18, na
França, quesedesenvolveuocon-
ceito moderno de gastronomia,
Maisdoqueuma simples
satisfação
Oatodecomer, alémdeserumanecessidade,
revelahábitosculturaisesociaisdeumpovo.
Nosdiasatuais, aindaconferestatusdepopstar
achefsque transformamapráticamilenarem
altagastronomia
associado com a busca do prazer
no ato de comer. Nascia o gosto
comometáfora e anoçãodebom
gosto. Podemos considerar que, a
partirdessemomento, houveuma
ruptura entre as ideias de saúde
e de prazer", esclarece João Luiz
Máximo da Silva, historiador e
professor dos cursos de pós-gra-
duação em Gastronomia História
e Cultura e Cozinha Brasileira do
CentroUniversitárioSenac.
Segundo ele, alimentação se
refere às relações que os homens
estabelecem ao longo do tempo
e do espaço com a preparação e
consumodealimentos. Jáoatode
"degustar um bom prato" diz res-
peito ao discurso gastronômico
moderno que foi forjado no oci-
dente a partir da França. "Degus-
tar um prato reporta ao alimento,
mas, sobretudo, a quem degusta",
defineoespecialista,acrescentan-
doquegastronomiaseriaaartede
preparar os alimentos com o ob-
jetivo de proporcionar prazer em
todos os sentidos, não apenas no
paladar. "Gastronomia também
abrange o próprio discurso em
tornoda comida e todo o aparato
de sustentaçãoem tornodela, co-
mo restaurantes, revistas, crítica
etc. Falar sobre a comida e, nos
diasdehoje, fotografá-laé tão im-
portantequantocomer."
Como é possível perceber, o
homem elevou a outro patamar
algo que, nos tempos ancestrais,
eraapenas imprescindível. Comer
ainda é essencial para a sobrevi-
vência da espécie humana e, nos
dias de hoje, com rotinas extre-
mamente corridas, almoçar rapi-
damente no meio do expediente
de trabalho retrataaessencial ne-
cessidadede "semanterempé".
Entretanto, aquele bom jantar
com amigos em um restaurante
aconchegante e o almoço de do-
mingo com a família, no qual to-
dos se reúnem para o preparo e a
degustaçãoprazerosaàmesa, com
certezatrazemumconfortoàalma.
"Degustar requer um pouco
mais de compenetração. Sen-
tir texturas, aromas, harmonizar
comumaboabebida. Issodificil-
mente fazemos, por exemplo, na
hora do almoço durante a sema-
na. Nesse caso, estamos apenas
nos alimentando", explica o
chef
Sassá,dorestaurante japonêsSas-
sáSushi, deSãoPaulo.
Para ele, se o prato está bom,
tantofazseraltagastronomia,gas-
tronomia ou culinária. "A ideia é
fazercomgostooquesegostapa-
raserviraalguém", afirmaSassá.
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