Saúde na Vitrine | Unimed Encosta da Serra | Novembro/2014 n° 62 - page 6

6 | Unimed-ES | Novembro de 2014
Trânsito
Uma perda que virou luta
Diza Gonzaga, que criou a Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, fala sobre superação, educação e esta geração de motoristas
Thiago de Moraes Gonzaga havia
completado 18 anos uma semana antes
da madrugada de 20 de maio de 1995.
Ao voltar de uma festa, o carro em que
ele estava de carona chocou-se contra
um contêiner colocado irregularmente
em uma avenida de Porto Alegre. Thia-
go perdeu a vida ali - e do sofrimento
de seus pais, Régis e Diza Gonzaga, e da
vontade deles de que outros pais não
passassem por tragédia semelhante,
nasceu a Fundação Thiago de Moraes
Gonzaga e o Vida Urgente.
Com trabalho voluntário, muita dis-
posição e vontade de fazer a diferença,
a Fundação soma muitos resultados
positivos em mais de 18 anos de ativi-
dades. O grupo desenvolve projetos de
conscientização sobre a vida e o trânsi-
to, com palestras, campanhas de comu-
nicação, peças de teatro e as famosas
blitzes, em que os voluntários da fun-
dação percorrem bares e festas levan-
do informação aos baladeiros e fazendo
testes de bafômetro educativos. É um
trabalho premiado e reconhecido mun-
dialmente.
Nesta entrevista, Diza Gonzaga fala
sobre o início da Fundação, o luto e a
educação dos novos motoristas.
Você acredita que os jovens de hoje, no mo-
mento em que iniciam sua vida de motoristas, es-
tão mais conscientes sobre os perigos do trânsito
do que no passado?
Sim, eles estão mais conscientes. A legislação foi
aperfeiçoada e hoje os jovens já têm acesso a infor-
mações de comportamento seguro no trânsito. No
início do nosso trabalho, quando não tinha Lei Seca e
as autoridades não usavam o bafômetro, quem tirava
o índice mais alto era festejado. Hoje, o herói é aquele
que zera o bafômetro, o amigo da rodada. Mas isso
não quer dizer que todos estão conscientes. Estamos
no meio do caminho. E temos que ter fiscalização efi-
ciente e a punição exemplar, pois a impunidade con-
tribui para a violência no trânsito.
A Fundação desenvolve muitos projetos corpo a
corpo com jovens. Como é a recepção deles?
Na maioria das vezes somos muito bem recebidos.
As pessoas mais velhas é que são mais resistentes,
pois muitos ainda pensam"eu até dirijo melhor quan-
do bebo". Nossa linguagem ajuda muito - é de jovem
para jovem, além disso, nossas ações não são puniti-
vas, são educativas.
Na sua opinião, quais são os fatores que têm
influenciado negativamente na educação no trân-
sito e na formação de motoristas?
Infelizmente, na maioria dos casos, não damos o
exemplo para os nossos filhos. Eles não aprendem a
dirigir aos 18 anos - eles aprendem a dirigir ao obser-
var os pais, que muitas vezes não usam cinto, param
na estrada e pedem uma cerveja. O exemplo vale mais
do que mil palavras.
Você iniciou a Fundação após uma tragédia
pessoal. Houve receio por parte da sua família de
que essa atitude fosse ser prejudicial para você?
O Vida Urgente não nasceu um ou dois anos após
a morte do Thiago. Foi exatamente naquela madru-
gada, em que eu recolhi meu filho no asfalto. Nasceu
ali. Eu não me conformava. Larguei arquitetura, que
é a minha formação e com o que eu trabalhava, e co-
mecei sem planejamento. Foi a opção que tive para
minha integridade física e psicológica. Tive que fazer
algo para que outros pais não passassem por aquilo.
Acho que meus familiares não imaginavam que eu
fosse levar adiante e isso tudo fosse acontecer. Tive a
felicidade de não me deixar paralisar pela dor.
Como é a sua relação com os pais que perde-
ram seus filhos e chegam à Fundação?
Quando criei a Fundação, não pensava em rece-
ber pais. Eu queria salvar "Thiagos" e "Thiagas". Mas os
pais começaram a chegar e procurar apoio. Hoje, te-
mos grupos de apoio, orientados por psicólogas, para
dar suporte aos pais que passam por essa tragédia.
Muitas vezes eu me emociono, pois essa dor não se
supera - nós temos que aprender a conviver com ela.
Eu me sinto gratificada em poder oferecer os grupos,
pois a convivência e a troca de experiências acelera
o processo de aprendizado e são essenciais para que
possamos seguir a vida após a perda de um filho.
De que forma o trabalho desenvolvido pela Fun-
dação é diferente de outras campanhas relacionadas
à segurança no trânsito?
O grande mérito do Vida Urgente foi ter trazido, lá
em 1996, uma nova linguagem para as campanhas de
trânsito. A nossa comunicação é humanizada - tanto
que o símbolo não é uma placa de sinalização e sim
uma borboleta, e as pessoas se identificam com isso.
Apresentamos o comportamento no trânsito para
além da sinalização. Pois para nós, o que circula nas
ruas, avenidas e estradas não são máquinas, são vidas.
Onde a Fundação quer chegar?
Meu sonho é fechar as portas por não haver mais
crimes de trânsito, só acidentes que não podem ser
evitados.
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