CENÁRIO
índice. “Uma é o não reajuste do preço de
gasolina e energia e a outra é o congela-
mento da taxa cambial, que, desde março,
está a 2,20. O governo não deveria inter-
ferir nessas questões, pois isso não é rea-
lismo fiscal e, em longo prazo, prejudicará
a economia do país.”
O baixo desempenho fiscal relacio-
nado ao
superávit
do governo, isto é, a
economia feita para quitar juros da dívida
pública, também contribui para os atuais
resultados. Entre 2003 e 2008, o governo
produzia um
superávit
correspondente a
3% do PIB; hoje, ele não chega a 1%, o que
influencia no valor que o país detém para
investimentos.
Segundo o sociólogo e colunista da
Folha de São Paulo, Demétrio Magnoli,
também presente ao
Simpósio das Uni-
meds
, a combinação desses três fatores –
cumprimento da meta de inflação a 4,5%,
câmbio flutuante e
superávit
positivo –
pode ser entendida como o tripé macroe-
conômico que vinha sendo priorizado na
política nacional desde a década de 90
para garantir estabilidade econômica, e
que se deteriorou nos últimos anos. “O
mais difícil será fazer as tão sonhadas re-
formas tributária, trabalhista e política
para reorganizar a estrutura de governo,
restabelecer a credibilidade interna e ex-
terna e reduzir o custo Brasil com investi-
mentos em infraestrutura”, reflete.
Cenário internacional
Demétrio Magnoli também fez uma
avaliação da economia internacional que
repercutiu no panorama brasileiro da
atualidade. Segundo ele, o país está vi-
venciando o encerramento de dois ciclos:
um econômico internacional e o outro po-
lítico nacional do lulo-petismo, sendo
ambos compreendidos com a entrada da
China no mercado mundial.
Um forte exemplo do impacto já pro-
vocado é o fato de que, em 1980, os Esta-
de preços, mas provocou o crescimento
da inflação do mercado imobiliário e de
ações. O estouro dessa ‘dupla bolha’ se
deu em 2008”, recorda o sociólogo.
A outra consequência da entrada
da China foi que a nação também se
transformou na maior importadora de
commodities
como combustíveis, ali-
mentos e matérias-primas minerais e
agrícolas. Com a alta procura, houve uma
explosão extraordinária dos preços des-
ses produtos, estimulando a economia de
países exportadores. “Isso teve conse-
quências econômicas e políticas. Brasil,
Venezuela e Rússia, por exemplo, viveram
como veleiros empurrados por um forte
vento de polpa e experimentando um
crescimento exorbitante. Do ponto de
vista político, ainda influenciou a perma-
nência no poder e a popularidade de es-
tadistas como Vladimir Putin, da Rússia,
e Hugo Chaves, da Venezuela, mesmo
eles sendo considerados ditadores”,
acrescenta Demétrio Magnoli.
No entanto, o país asiático, após um
desenvolvimento significativo, também
está alcançando o seu equilíbrio. “Os
chineses estão exportando menos pro-
dutos manufaturados, pois os mercados
consumidores estão saturados e impor-
tando menos. Com isso, eles precisam
direcionar os esforços para o mercado
interno, e a previsão é que o crescimento
do país seja menor nas próximas déca-
das”, vislumbra.
Com o desaquecimento da econo-
mia asiática, as
commodities
deverão re-
duzir os preços dos produtos, o que
levará os demais países a tomar novas
medidas. “Aqueles que ficaram reféns
dessa alta demanda já estão sofrendo,
pois os preços estão caindo. Sobrevive-
rão apenas os mercados que forem bas-
tante competitivos e tiverem diferenciais
de tecnologia e qualidade para oferecer
ao tigre asiático.”
dos Unidos eram responsáveis por 25%
do PIB mundial e, hoje, correspondem a
18%. E o tigre asiático, que, em 1980, cor-
respondia a 2%, agora, contribui com
quase 18%. “Vivemos uma grande trans-
formação e isso não quer dizer uma deca-
dência americana, e sim, que décadas
após as duas grandes guerras mundiais,
outras economias se tornaram importan-
tes. A americana, que continua sendo a
maior do mundo, se normalizou dentro de
um quadro cada vez mais multipolar”, diz.
A China se tornou o principal produ-
tor e exportador de manufaturados,
sendo os Estados Unidos o maior impor-
tador. Esse quadro, de acordo com De-
métrio Magnoli, depois de muitos anos,
levou à raiz da crise econômica de 2008.
“Segundo manuais de Bancos Centrais
de diversos países, um longo período de
crescimento econômico gera pressões
inflacionárias, que devem ser combati-
das com o aumento das taxas de juros,
retirando dinheiro do mercado e redu-
zindo o consumo.”
No entanto, essa regra não se aplicou
ao país norte-americano e a outras gran-
des economias do Ocidente entre 2000 e
2009, pois os itens com menor custo im-
pediram a inflação e aumentaram o con-
sumo. ”Estava sobrando muito dinheiro
no mundo, o que não provocou aumento
Entrada da China na economia é um
dos fatores apontados por Demétrio para
as mudanças no cenário internacional
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Revista Conexão - Outubro / Novembro / Dezembro de 2014 - Edição 15