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REVISTA VIVA
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de umano surgiu em seu caminho, como elemes-
mo conta. "Acompanhei o pré e pós-operatório
de Mariana, portadora de cardiopatia congênita.
Criamos uma grande afinidade, pois sou apaixo-
nado por criança, e isso gerou um certo problema
porque ela só aceitava os meus cuidados quando
eu estava no plantão da UTI. No dia em que foi
operada, confesso que fiquei muito tenso". In-
felizmente, como ele conta, no pós-operatório a
Mariana teve complicações respiratórias e não
resistiu. "Senti omundo desmoronar. Foi uma dor
insuportável. Como era residente, fui convocado
a informar aos pais da criança sobre o triste des-
fecho. Lembro-me como se fosse hoje. Diante dos
pais da Mariana, tentei manter o controle emo-
cional e comecei a falar, quando fui interrompido
pelo pai dela que, olhando-me com toda ternura,
disse-me: 'Doutor, sabemos do seu carinho pela
nossa filha. Triste é saber que nós perdemos uma
filha e que o senhor perdeu a sua 'princesa'. No
dia seguinte, recebi um cartaz da família e nele
havia uma criança na chuva calçando botas, com
um guarda-chuva, carregando flores e com os
seguintes dizeres: 'Se estamos felizes, todos os dias
são belos'. Por tudo isso, para que pudessemanter
viva essa lembrança, escolhi o nome de Mariana
para uma deminhas filhas", conclui emocionado.
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COMOÇÃO DA CURA
Se fosse contar os inúmeros casos de emoção que
viveu em mais de 20 anos atuando na Terapia
Intensiva, a médica Eliana Caser escreveria um
livro ou quem sabe vários. Mas ela preferiu falar
do sentimento de cuidar com muito carinho da-
queles que precisamvoltar à vida. "Forammuitos
os casos emocionantes, mas o que nos comove de
verdade é ver o paciente bem. Émuito gratificante
vê-los 'nascendo' de novo, valorizando cada mo-
mento da vida. É uma sensação indescritível", re-
latada emocionada. Ela lembra que o profissional
precisa estar preparado para atuar em Unidades
de Terapia Intensiva. "É preciso equilíbrio. Em
alguns momentos a emoção fala mais alto, no
entanto a razão surge e não nos deixa envolver,
o que é fundamental para não atrapalhar as con-
dutas médicas", explica. Eliana lembra também
que é primordial respeitar as crenças do paciente
e ouvir a família nos momentos difíceis. "Sempre
digo para minha equipe que somos como todos
os pacientes, e por isso precisamos nos colocar
no lugar deles. Como eu gostaria de ser tratado?
Isso faz toda a diferença", completa.
mariana
Quemse lembra bemde uma história quemarcou
a sua carreira é o cardiologista RogérioMontene-
gro. No ano de 1980, uma menina de pouco mais
Rogério Montenegro homenageou a perda de uma paciente
especial dando o mesmo nome à sua filha, Mariana
Em 30 anos atuando
em UTI, Eliana Caser
destacou a importância
do equilíbrio emocional
para atuar na área
Fotos: Arquivo