https://www.unimed.coop.br/site/o/sites-theme/images/cards-noticias/noticias-padrao.png

Entrevista: médico dá dicas e esclarece dúvidas sobre câncer de próstata

Problema deve atingir cerca de 65.840 brasileiros até o fim de 2022; chances de cura chegam a 90%, se diagnosticado no início
Texto: Silvana Costa
Design: Guilherme Cruz
        08 de novembro, 2022
O mês de novembro dá início as atividades da Campanha Novembro Azul e alerta sobre a importância da prevenção e diagnóstico de doenças que afetam a população masculina, como o câncer de próstata.  Segundo Instituto Nacional do Câncer (INCA), até o fim de 2022, quase 70 mil novos casos de câncer de próstata devem ser registrados, um risco estimado de 62,95 casos a cada 100 mil habitantes. No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais incidente entre os homens, depois do câncer de pele não melanoma.

No Maranhão, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES), nos últimos três anos foram registrados 1801 casos de câncer de próstata no estado, sendo 334 em 2022, 797 em 2021 e 670 em 2020.

A doença, embora silenciosa nas fases iniciais, se descoberta precocemente, tem 90% de chances de cura. O médico urologista Waldir Silveira comemora o avanço da medicina no combate a doença. “Com o advento do PSA, o exame [laboratorial] de sangue [que detecta câncer] de próstata, conseguimos diminuir o número de morte por câncer específico, porque fizemos o diagnóstico precoce e [logo] tratamos. Com isso, você dá uma sobrevida maior a esses pacientes”, diz o médico.

Alguns sintomas da doença podem ser dificuldade ao urinar, diminuição do jato de urina, uma maior necessidade de ir ao banheiro, além da presença de sangue no xixi.

O diagnóstico também pode ser confirmado pelo exame de toque, que aliado ao PSA, ajuda a identificar 80% dos casos de neoplasia de próstata. A recomendação da SBU é que os exames devem “ser feitos a partir dos 45 anos por todos os homens e a partir dos 40 anos para aqueles da raça negra ou que têm história de câncer da próstata na família”.

 
Nesta entrevista, o médico urologista Waldir Silveira Lage, formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com residência em urologia pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) e fellow em urologia pela Fundação Puigvert em Barcelona, na Espanha, fala da importância de o homem ir ao médico e do tabu que existe em relação a assuntos da saúde masculina.

Confira a entrevista completa:

Unimed Maranhão do Sul: Em sua opinião, quais as principais barreiras que impedem que os homens não cuidem da sua saúde em geral e da saúde da próstata, em particular?
Dr. Waldir Silveira Lage: Cada ano que passa, a gente enxerga e presencia o cuidado que o homem está tendo com a sua saúde. Então, aquilo que era uma brincadeira, porque o paciente ia fazer exame de próstata, hoje virou coisa séria. Eles têm procurado cada vez mais a avaliação urológica. Então isso tem sido desmistificado ao longo do tempo.

UMS: A vergonha, por exemplo, você acredita ser uma barreira?
Dr. Waldir Silveira: Acho que tem certas pessoas que tem o tabu do medo de estar com a doença. Isso aí é uma inocência. Se você tem medo de estar com a doença e faz o exame, e, de repente, você está com essa doença, você será tratado. Por exemplo: “eu não vou no urologista, porque tenho medo de ter um câncer de próstata”, “não vou no mastologista, porque eu tenho medo de um câncer de mama”. Não é assim que funciona as coisas, porque se você tiver com o tumor numa fase inicial, tem 90% de chance de cura, se diagnosticado precocemente.

UMS: Então, na sua opinião, é mais a questão do medo, no homem?
Dr. Waldir Silveira: É, ele tem um medo. O medo [do que eles chamam] de “doença ruim”. Essa barreira tem sido destruída ao longo de cada campanha. A população masculina acima de 45 anos faz o exame de próstata. Isso é importantíssimo, porque a mídia, as informações, a televisão, a Sociedade Brasileira de Urologia, vai derrubando esse tabu. Existir, existe, mas tem diminuído a cada campanha [realizada no mês de novembro].



UMS: Quais os principais fatores de risco para o câncer de próstata?

Dr. Waldir Silveira: Se você tem na família alguém que teve câncer de próstata, a sua chance é seis vezes maior que a população geral. Então, na população geral, você vai ver que o câncer de próstata é o segundo tumor mais frequente no homem, e tem um pico de incidência em torno de 60% por volta dos 60 anos de idade.

UMS: E como é feito o diagnóstico?
Dr. Waldir Silveira: É avaliado, primeiramente, sintomas obstrutivos ou sintomas irritativos da próstata. Vemos se ele tem dificuldade de urinar, se ele levanta muito a noite, se ele urina tudo ou se fica ainda alguma coisa dentro da bexiga, ou se ele para urinar tem que espremer. Aí nós temos três doenças básicas da próstata: a prostatite que é um processo inflamatório; o adenoma da próstata, que é um crescimento benigno da próstata; e o câncer de próstata. Então, nós fazemos o exame geral. Vamos pedir aquela bateria de exame geral e o PSA, que é uma micro proteína que está aumentada no câncer de próstata. Nessa avaliação, a gente faz o toque da próstata para ver como ela está, o tamanho, se tem algum nódulo, ou se está endurecida. Fazemos, também, o ultrassom da próstata e do aparelho urinário, para ver se não tem outras coisas como cálculo, tumor de rim, de bexiga. Pedimos, em alguns pacientes, o fluxo para ver como é que está urinando, porque tem paciente que é muito difícil de você extrair o “não estou urinando bem”. Então, diante da anamnese da conversa que você tem com o paciente no consultório, você vai pedir os exames.

UMS: A atividade física diminui a possibilidade de desenvolver o câncer de próstata?
Dr. Waldir Silveira: A atividade física vai melhorar a sua saúde como um todo. Pessoas mais obesas tem o índice aumentado em relação a população que tem um índice de massa corporal normal, mas isso é uma coisa muito difícil da gente estabelecer. Então, a atividade física, de forma geral, melhora o seu humor, melhora a circulação sanguínea e melhora o seu sistema imunológico.

UMS: Homens jovens podem ter câncer de próstata?
Dr. Waldir Silveira: O tumor de próstata que atinge uma população jovem ele é um tumor mais agressivo. Tem aparecido um aumento desses tumores em população de 29-35 anos de idade. Aí você vai ter que ver os fatores, por exemplo. O pai teve? o tio teve? o irmão teve? Então, esse paciente acende uma luzinha amarela, para começar a investigação mais rápida. Nesses casos especiais, com vários cânceres de próstata na família.

UMS: E quais cuidados devem ser tomados para essa população jovem?
Dr. Waldir Silveira: Os cuidados são gerais, porque aquilo ali é uma multiplicação desordenada do tumor, pode aparecer, igual, um tumor de ovário na mulher, que é um tumor assassino. Você não tem como prevenir. O que você tem que fazer para melhorar a sua imunidade é uma alimentação adequada, atividade física regular, manter o peso adequado, o sono regulado e diminuir o estresse. Então, não tem uma coisa mágica que se eu fizer isso eu não vou ter. Você tem vários fatores. [Podem ser] alimentares, genéticos, comportamentais e ambientais. Não tem uma dieta específica ou uma atitude que a pessoa faz, especificamente, para coibir um certo tipo de tumor.

UMS: E fazer os exames regularmente, correto?
Dr. Waldir Silveira: É, a prevenção nos chama a isso. “Eu estou bem, mas na minha família tem câncer de próstata, tem câncer de mama, tem câncer de colo, tem câncer de intestino, então, opa, espera aí, esses tumores têm relações entre eles”. O que os homens precisam fazer é acompanhamento com base no que eles têm, pela evolução do tamanho da próstata, evolução do aumento ou estabilização do PSA. Esse é o acompanhamento que você deve fazer.

UMS: Qual a relevância da campanha Novembro Azul para a sociedade?
Dr. Waldir Silveira: Conscientizar a população masculina a se cuidar. A campanha do Novembro Azul é só um chamamento, mas ela continua durante o ano todo, alertando a população para realizar a prevenção [a saúde]. Quando o paciente tem uma obstrução, ele, às vezes, não tem câncer, mas tem hipertrofia prostática. Às vezes, nessa avaliação, ele tem um câncer de rim, um cálculo renal, então a gente desperta [o alerta] para outros problemas.

UMS: Um paciente com câncer, por exemplo, ele tem que ir com que frequência ao médico?
Dr. Waldir Silveira: Ele deve ir ao médico no primeiro ano a cada 3 meses. No segundo ano, de 6 em 6 meses. No terceiro ano, de ano em ano. Se ele tiver alguma alteração importante, esse espaço é encurtado. Na medicina o tratamento é individualizado. Então, se eu tenho um paciente em que o PSA dele está normal esse ano, a próstata está normal, ele não tem sintomas obstrutivos nem nada, eu posso esticar esse exame. Você não precisa vir ano que vem, venha daqui dois anos.  

UMS: Você poderia comentar sobre a relação da obesidade e o câncer de próstata?
Dr. Waldir Silveira: As pessoas obesas comem mais gordura saturadas. Esse tipo de gordura pesada colabora e muito para você ter, além [das doenças do coração], o câncer de próstata. Então, é mais questão de alimentação mesmo.

UMS: Última pergunta. Qual a mensagem de cuidado você gostaria de transmitir sobre o câncer de próstata?
Dr. Waldir Silveira: De forma geral, acho que o que fica na mensagem é cuidar da saúde como um todo. Manter o peso adequado, um sono regulado, uma alimentação bem balanceada e atividade física. Então, com isso, você vai estar cuidando da sua saúde vai estar [evitando] o aparecimento de tumores seja lá qual for.

Edição de Texto
Wanderson Souza