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Mulheres com epilepsia precisam de cuidado especial

Mulheres com epilepsia precisam de cuidado especial

Março roxo visa esclarecer dúvidas sobre a epilepsia. Confira entrevista com neurologista

Mulheres com epilepsia precisam de cuidado especial

20 Março 2023

 

Epilepsia, crise epiléptica, convulsão… apesar de serem termos conhecidos e distintos, não raramente são usados como sinônimos.

 

 

Mas cuidado para não confundir: segundo a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE), até 10% das pessoas podem ter uma crise epiléptica na vida, por diversos motivos. Mas isso não significa que ela seja necessariamente acometida pela epilepsia. A estimativa é que cerca de 1 a 2% da população tenha a doença realmente.

Para promover a conscientização sobre a epilepsia, foi criada a campanha março roxo.

A boa notícia é que com acompanhamento médico e tratamento adequado, a maior parte das pessoas com epilepsia conseguem levar a vida normalmente.

 

No entanto, mulheres com epilepsia necessitam de cuidados um pouco diferenciados. Isso porque as alterações nos hormônios femininos ao longo da vida podem impactar as crises. Esse é um dos temas que conversamos com o neurologista Dr. Lécio Figueira Pinto, vice-presidente da ABE, que você confere a seguir.

 


Epilepsia: o que é, tipos e causas

Epilepsia em mulheres: cuidados especiais

Epilepsia e trabalho

 

Epilepsia: o que é, tipos de crise e causas

Epilepsia é uma doença neurológica que provoca crises epilépticas. Segundo o neurologista Dr. Lécio Figueira Pinto, “para receber o diagnóstico, deve ter ocorrido ao menos uma crise e existir um risco aumentado de voltar a apresentar novas crises. Isso pode ser definido quando elas acontecem com frequência em um claro desencadeante, ou por exames de ressonância ou eletroencefalograma que apontem esse risco aumentado”.

“Ter um episódio isolado de crise epiléptica não caracteriza ter epilepsia” – afirma.

 

 

Tipos de crises epilépticas e como lidar com elas

A crise epiléptica pode ser de diferentes tipos e intensidades. A crise tônico-clônica, também conhecida pelo nome convulsão, é a mais grave e também a mais conhecida dessas manifestações.

 

Conheça as demais: 

Crises focais: afetam apenas uma região do cérebro, e os sintomas variam de acordo com a área afetada. Pode haver alteração visual, como se fossem luzes piscando, um movimento anormal de uma parte do corpo, uma alteração no pensamento, como um déjà vu. Pode ocorrer perda de consciência logo no início ou na sequência da crise.

Crises generalizadas: alteram o funcionamento dos dois lados do cérebro. A mais conhecida é a crise de ausência, mais comum em crianças e adolescentes, em que a pessoa fica por segundos “fora do ar”.

Crises tônico-clônicas (convulsões): nessas crises a pessoa perde a consciência, apresenta salivação excessiva (babar), fica rígida, apresenta tremores, pode cair, travar a boca, morder a língua, urinar ou defecar na roupa. Esse é o tipo de crise mais forte, que mais assusta as pessoas. Pode ser a evolução de uma crise focal ou uma crise generalizada.

 

 

Tenha calma e siga as dicas

 

Para lidar com uma convulsão epiléptica, a ABE orienta ter calma e seguir algumas dicas:

 

C  Coloque a pessoa de lado e com a cabeça elevada para que não sufoque com a saliva. Não tente segurar braços e pernas.

Apoie a cabeça sobre algo macio para protegê-la. Não tente abrir a boca da pessoa, nem inserir nada.

L  Localize objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os. Retire óculos e afrouxe roupas apertadas.

M  Monitore o tempo. Se a crise durar mais de 5 minutos ou se repetir, ligue para o SAMU (192).

A  Acompanhe a pessoa até que ela acorde. Em caso de ferimentos ou de primeira crise na vida, chame o SAMU (192).

 

 

 

 

Causas da epilepsia

A crise epiléptica ocorre por uma alteração do funcionamento do cérebro, quando acontece um tipo de “curto circuito” por causa dessa atividade anormal ou excessiva.

 

Causas da crise epiléptica:

“Pode ocorrer em várias situações, como infecções cerebrais, após um acidente vascular cerebral, trauma de crânio, uso de medicações ou drogas ilícitas. Frequentemente isso acontece por uma alteração do funcionamento cerebral naquele momento e não obrigatoriamente voltará a ocorrer ou será necessário o uso de medicações”, explica o dr. Figueira Pinto.

 

Causas da epilepsia

A primeira coisa a lembrar é que a epilepsia não é contagiosa, ou seja, não há risco de pegar ao socorrer alguém durante a crise. Existem diferentes causas para a doença:

  • lesão cerebral adquirida durante a vida
  • alterações no funcionamento cerebral de causa genética
  • lesões cerebrais ocorridas no útero ou no parto (falta de oxigenação, hipoglicemia etc.)
  • lesões cerebrais causadas por infecções (meningites, encefalites)
  • trauma de crânio
  • acidente vascular cerebral (AVC)
  • tumores
  • doenças degenerativas, como doença de Alzheimer

 

 

A epilepsia é hereditária?

 

O Vice-Presidente da ABE explica que a epilepsia não maioria dos casos é diretamente de causa genética/hereditária. “Porém, alguns genes fazem com que haja uma predisposição maior a apresentar crises quando há exposição a fatores desencadeantes”.

Atualmente, com exames mais avançados, podemos comprovar causa genética em uma parte dos casos, principalmente em crianças com epilepsias graves e frequentemente associadas a outras alterações, como atraso desenvolvimento ou deficiência mental.

 

 

 

Epilepsia em mulheres: cuidados especiais

Apesar de a epilepsia afetar homens e mulheres de forma semelhante, existem diferenças no tratamento e cuidados necessários. A principal delas ocorre na idade fértil – tanto para planejar uma gravidez segura, quanto para evitar uma gravidez indesejada.

 

Epilepsia e gravidez

Se a mulher que tem a epilepsia deseja engravidar, precisa fazer o planejamento com maior antecedência. 

 

“Os medicamentos deverão ser mantidos, pois, se reduzidos ou interrompidos, as crises podem voltar ou piorarem, com risco inclusive de vida para a mulher” – alerta dr. Lécio.

 

O neurologista explica ainda que, durante esse planejamento prévio, “a mulher deverá receber medicamentos mais seguros, com menos risco de levar a problemas para o bebê. As crises devem estar controladas e a dose deverá ser a menor possível. Além disso, é muito importante o uso de ácido fólico meses antes da gravidez, porque todas essas medidas reduzem o risco de crises e problema para o bebê”.

Durante a gravidez, o acompanhamento neurológico deverá ser ainda mais próximo. Para que não percam efeito, algumas medicações podem precisar de ajuste de dose para compensar o ganho de peso, aumento no metabolismo e outras alterações que acontecem no período da gravidez.

 

Epilepsia e hormônios femininos

Ainda segundo dr. Lécio, algumas mulheres podem ter mais crises no período menstrual e/ou da ovulação devido às alterações hormonais. “Caso isso seja observado, deverá ser comunicado ao neurologista para alguns ajustes no tratamento”, aconselha.

Além disso, é preciso ter cuidado no uso de anticoncepcionais. “Alguns medicamentos usados para tratar epilepsia fazem com que o efeito dos anticoncepcionais seja reduzido, levando à perda de eficácia. Por outro lado, anticoncepcionais podem reduzir o efeito de alguns medicamentos para epilepsia. É importante o acompanhamento com neurologista e comunicar o uso de medicamentos, em especial anticoncepcionais, para ter uma orientação adequada”, destaca o médico.

Na menopausa podem ocorrer flutuações hormonais que podem afetar as crises e o tratamento poderá ser ajustado se isso for percebido.

 

Epilepsia e trabalho

A maioria das pessoas com epilepsia tem suas crises controladas com o uso de medicamentos. Assim, com o tratamento adequado, poderão trabalhar, dirigir e ter uma vida plena.

 

“A primeira mensagem é que não é normal continuar tendo crises. Assim, se mesmo com uso das medicações elas continuam a acontecer, a pessoa deverá ser avaliada por um neurologista especialista em epilepsia para entender a causa”, explica.

 

O neurologista lembra que pessoas com epilepsia, em uso de medicação, com as crises controladas por mais de um ano podem dirigir. Isso vale somente para carteira de motorista B e não profissional.

Porém, nem todas as atividades profissionais estão liberadas. “Mesmo com o controle de medicamentos, pessoas com epilepsia não devem exercer atividades de risco, como trabalho em alturas, máquinas com risco de acidente etc., pelo risco de acidentes relacionados” – continua.

 

“Em casos mais graves pode ser necessário afastamento definitivo e aposentadoria, mas deve ter sido tentado tratamento adequado, que por vezes envolve tratamentos cirúrgicos para epilepsia”, finaliza o neurologista.

 

 

Conhecer o que pode desencadear crises é importante. Você conhece seus gatilhos emocionais? Saiba mais sobre o assunto no artigo Gatilhos emocionais: como identificar e lidar com eles

 

 

Fonte: Associação Brasileira de Epilepsia (Dr. Lécio Figueira Pinto, neurologista vice-presidente - CRM 110.924 SP)


Agência Babushka | Unimed do Brasil

Revisão técnica: equipe médica da Unimed do Brasil


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