Revista Ampla - Ediçãom 30 - page 30

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R e v i s ta A m p l a
Os custos e o número de procedi-
mentos de Artroplastia de Quadril têm
crescido vertiginosamente despertando
a atenção dos gestores em saúde.
Segundo Coelho (2008) foram rea-
lizados, em 2002, cerca de 700 mil ar-
troplastias total ou parcial de quadril no
mundo. O objetivo do procedimento é
aliviar a dor e restaurar ou aumentar a
amplitude do movimento. O envelheci-
mento da população é fator preponde-
rante e deverá aumentar o número de
procedimentos cerca de quatro vezes
até 2050.
A taxa de mortalidade em Cirurgia
de Prótese de Quadril é discrepante en-
tre prestadores de saúde analisados nos
EUA e no Brasil, que apresentaram uma
taxa de 0,23% e 2,32% respectivamente.
Alguns fatores que intervêm no resulta-
do final do procedimento são: a) varia-
bilidade das próteses totais de quadril
(mais de 400 tipos); b) Diferentes méto-
dos de fixação; c) Experiência e técnica
do cirurgião; d) Falta de padronização
dos protocolos de profilaxia periopera-
tória; e) Características dos pacientes,
como doença de base, massa óssea, ní-
vel de atividade comparada à percepção
do estado de saúde.
O estudo de Ulrich
et al.
, 2008, com
225 pacientes que sofreram cirurgia
primária, com idade média de 59 anos,
mostra que 51,9% fizeram revisão de-
vido à perda asséptica, 16,9% devido à
instabilidade e 15,6% devido à infecção.
Ainda 8,0% das próteses foram revisadas
por dor na articulação, 5,5% por fratura
periprotética e 2,1% por falha mecânica
dos componentes. Perda asséptica foi a
causa de 18,0% das revisões que ocor-
reram em menos de dois anos após a
implantação e esse percentual aumen-
ta para 90,0% nas falhas que ocorreram
após 10 anos. As falhas que ocorreram
em até dois anos após a implantação
podem ser atribuídas à instabilidade e
infecção. Aproximadamente metade das
próteses sofreu revisão antes de com-
pletar cinco anos de implantação.
Segundo a SBOT (Sociedade Brasi-
leira de Ortopedia e Traumatologia),
Regional Paraná, no município de Curi-
tiba, em 2006, realizou-se 312 artro-
plastias primárias de quadril. Dessas, 71
(22,75%) sofreram revisão sem registros
adequados das causas. Soares (2009) re-
alizou um levantamento junto à Unimed
Paraná e refere que entre janeiro de
2003 e junho de 2009 foram realizados
231 artroplastias de quadril, sendo que
78 delas sofreram revisão. Portanto, a
taxa de revisão na Operadora de Plano
de Saúde analisada foi de 34%, com cus-
to médio por evento de R$ 37.733,65,
visto que o implante representa 34,0%
do custo total da cirurgia. Já a taxa de
revisão nacional registrada pelo SUS no
ano de 2004 foi de 15,0%. Soares (2009)
analisou também os custos dos proce-
dimentos nesse período na operadora e
detectou que o custo médio das ATQs va-
riou entre R$ 15.884,29 e R$ 59.583,02
enquanto que o das revisões variou en-
tre R$ 33.634,23 e R$ 90.372,80.
Poucos estudos avaliam a eficiência
clínica em 10 anos e outros apresentam
falhas metodológicas que comprome-
tem conclusões adequadas.
Estudos conduzidos nos Estados Uni-
dos na década de 90 revelam que cerca
de 10% dos dispositivos para osteossín-
tese removidos de pacientes encontra-
vam-se fora de especificações fixadas
pelas normas ASTM então vigentes (CA-
VALCANTI, 2002).
Greiffo (2012), em pesquisa realiza-
da junto aos membros da Sociedade Bra-
sileira de Quadril, refere que os cirur-
giões realizam mais procedimentos de
ATQ remunerados pela Saúde Suplemen-
tar (convênios, 55%), do que pelo SUS
(42%), e pouca incidência de pacientes
particulares (3%). Os sujeitos manifesta-
ram também maior liberdade de escolha
de próteses quando atendem pacientes
de convênios (66%) comparada à de pa-
cientes do SUS (22%). No entanto, em
relação à NOTIVISA, que recebe as no-
tificações da Tecnovigilância, 72% deles
dizem desconhecer a ferramenta de pós
comercialização e controle de qualida-
de disponibilizada pela ANVISA. Todavia,
94% da amostra disse que já constatou
falha protética no decorrer da carreira,
e que em 60% das ocorrências o fornece-
dor foi contatado e não a ANVISA, e em
outros 30% de falhas nada foi feito.
Esses dados refletem o descompasso
entre a ANVISA e os médicos assistentes
em relação ao monitoramento de tec-
nologias em saúde. Estes por não noti-
ficarem os eventos adversos e queixas
técnicas ao órgão regulatório, e a Agên-
cia, por não divulgar amplamente essa
ferramenta aos médicos.
É fundamental que todos os segmen-
tos envolvidos - população assistida,
especialistas, prestadores, indústria e
seus distribuidores, agências regulado-
ras e operadoras façam uma avaliação
criteriosa dos resultados discrepantes e
promovam acompanhamento detalhado
de um procedimento cada vez mais fre-
quente, pois a Tecnovigilância não é res-
ponsabilidade de uma divisão ou grupo
de pessoas, mas um compromisso social
de todos com o direito de assistência à
saúde com qualidade (ANVISA, 2003).
Artigo |
MBE
Prótese Total de Quadril -
Uma reflexão
Referências
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Dissertação de mestrado apresentada no programa de Pós Graduação em
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DE BRASILEIRA DE QUADRIL: UM GUIA PRÁTICO. Dissertação de mestrado. Universidade Tecnológica d
Paraná. Curitiba, 2012
Marlus Volney de Morais -
Gerente-médico da Unimed Paraná
Rosane H. Greiffo -
Analista da Área de Auditoria e Serviços de Saúde da Unimed Paraná
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