Revista Vem Viver | Edição 03 - page 46

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VEMVIVER
SETEMBRO 2014
AOS 12 ANOS,
William Henry Gates III passou
pela primeira consulta no psicólogo porque os
pais achavam que ele gostava mais dos livros do
que das pessoas. Na faculdade, demorou duas se-
manas para convidar uma colega para o baile de
formatura (e foi rejeitado). Introvertido, sempre
preferiu não se expor para as pessoas a mostrar
uma extroversão que nunca lhe pertenceu.
A história acima pertence ao homem mais rico
do mundo, o norte-americano Bill Gates, mas po-
deria ser de qualquer um. O ex-dono da Microsoft,
que tinha tudo para acabar no comando de uma
lan house, sobreviveu às exigências de uma so-
ciedade acostumada a valorizar os eloquentes,
capazes de se relacionar até com uma pedra.
Mais do que isso, construiu um império e se tor-
nou o empresário mais conhecido do planeta -
mas sem perder a essência.
No livro "O Poder dos Quietos" (Editora Agir,
344 páginas), Susan Cain apresenta histórias de
introvertidos de sucesso, exatamente como a
de Gates, e oferece inestimáveis conselhos so-
bre como os tímidos podem tirar vantagens de
suas características.
Para a psicóloga Leidiany Cristina da Silva, pro-
fessora da Faculdade de Americana (FAM), casos
como o do bilionário mostram que ser quieto tem
suas vantagens, mas com algumas ressalvas. "Se
a empresa estiver em busca de um perfil para
programação de computadores, por exemplo, al-
gumas características dos introvertidos são favo-
ráveis, como ser detalhista, observador e focado",
analisa. Por outro lado, alguns comportamentos
podem não ajudar em um cargo de vendedor, en-
tre eles a dificuldade de autoexposição.
Mas o que define um introvertido? A psicóloga
Susana Ório, orientadora educacional do Colégio
Madre Alix, em São Paulo (SP), explica que a pes-
soa com esse perfil não consegue se expressar por
ter vergonha ou timidez excessiva. "Ela não gosta
de se expor frente aos outros, é muito fechada e
não consegue falar sobre emoções", comenta.
Os benefícios desse comportamento dependem
de cada um. "Em um ambiente de trabalho, quem
é mais reservado pode ser mais cauteloso, se po-
sicionar com mais cuidado, evitar fofocas e pensar
bem antes de agir", complementa Susana.
FALAR MENOS E OUVIR MAIS
A recepcionista Marcella Oliveira Ramos, de 23
anos, mora na capital paulista e se considera in-
trovertida. Ela conta que sempre foi mais quieta e
acredita que o motivo possa estar na sua criação.
"Eu brincava com adultos e só me enturmava com
crianças mais velhas do que eu. Quando não era
isso, vivia com a professora da escolinha", relata.
Quando começou a trabalhar, Marcella perce-
beu que ficar na dela permitia mais concentração
e eficiência para desenvolver as atividades. "Com
esse meu jeito, consigo manter o foco e separar o
trabalho da diversão", afirma.
A psicóloga paulistana Tamiris Martins conta
que a arte de saber ouvir existe desde a Grécia
Antiga. "Como vivemos em sociedade é muito im-
portante prestar atenção no que o outro diz para
formularmos opiniões que não sejam puramente
subjetivas", explica.
Ela acredita que essa vantagem do introvertido
pode levar a um cargo de liderança. "Ele tende a ser
umgestor mais próximo da equipe, umouvinte mais
atencioso e corre menos o risco de se expor em reu-
niões. Mas essa atitude deve ser dosada para não fi-
car apagado e se esconder na hora de se posicionar".
Bill Gates que o diga.
BEM-ESTAR
ASCARACTERÍSTICASDOS INTROVERTIDOS
. Observador e cauteloso na
comunicação, evita exposi-
ções desnecessárias.
. Consegue emitir uma opi-
niãomais embasada sobre
determinado assunto.
. Desenvolvemelhor a criati-
vidade quando está sozinho.
. Costuma ser umbom
articulador e sabe ouvir bem.
Prestamais atenção nas
mensagens relevantes.
. Sabe liderar, pois
permite que funcionários
talentosos desenvolvam
suas ideias. Geralmente,
não dámuita bola
para o ego.
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