Revista Vem Viver | Edição 03 - page 49

SETEMBRO 2014
VEMVIVER
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APÓS UMA TENTATIVA
frustrada de
visitar um lar em Amparo, no interior de
São Paulo, o marido da enfermeira de
pronto-atendimento Priscila Petroli, de
34 anos, voltou com uma certeza: ti-
nha acabado de conhecer seu filho. A
princípio, ela achou o comentário curio-
so, mas não pode discordar quando viu
Vitor, de sete anos, pela primeira vez.
"Meu marido e eu nos apaixonamos por
ele. Não tem explicação, sabíamos que
ele faria parte da nossa família assim
que o vimos", conta.
O casal, que enfrentava dificuldades
para engravidar havia oito anos, já fazia
parte do Cadastro Nacional de Adoção
(CNA) e encontrou no menino, com diag-
nóstico de autismo, a possibilidade de
realizar o sonho de adotar uma criança
especial. "Como estava no lar desde os
dois anos, ele era o único direcionado
para adoção. O processo foi bem rápido,
mas delicado porque dependia muito da
aceitação dele", lembra.
Depois de ganhar a autorização judi-
cial, as visitas começaram espaçadas
e aumentaram à medida que Vitor se
adaptava ao casal. O começo foi difí-
cil, já que ele não aceitava o contato e
se isolava. Mas os futuros pais tiveram
paciência e aproveitaram a paixão do
garoto por animais para se aproximar.
Ele se integrou de vez à nova família
em agosto do ano passado e as notí-
cias não poderiam ser melhores. "Minha
cabeça mudou tanto que meu instinto
maternal veio à tona e acabei engravi-
dando da minha primeira filha, a Vitória,
que deve nascer em breve. Digo que o
Vitor mudou a minha vida", emociona-
-se a enfermeira.
Como Priscila, muitas pessoas encon-
tram na adoção uma alternativa para o
desejo de construir um lar. Essa trajetória
pode trazer inúmeras alegrias e realiza-
ções, mas também demanda muita res-
ponsabilidade e dedicação.
O primeiro passo é estar preparado a
olhar para o outro e não apenas para si
mesmo. "Pessoas que buscam na ado-
ção uma forma de preencher um vazio
podem esquecer que a criança é um ser
humano repleto de sentimentos e emo-
ções, fragilizado pelo abandono ou re-
jeição, e que necessita de acolhimento
afetivo", alerta a psicóloga Roseli Laranja.
A ADOÇÃO NO BRASIL
Atualmente, o Brasil tem cerca de cinco
mil crianças aptas à adoção, ou seja, já
foram destituídas do poder familiar. Ou-
tras 40 mil estão em acolhimento ins-
titucional - uma espécie de tutela pro-
visória até que elas possam retornar à
família de origem ou esperar novos pais.
Segundo dados do CNA de março des-
te ano, aproximadamente 30 mil pessoas
manifestaram o desejo de adotar. Mas,
se o número de pais interessados é tão
superior ao de crianças que aguardam
um novo lar, porque o processo ainda
é devagar? Como o objetivo da Justiça
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