Revista Vem Viver | Edição 03 - page 50

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VEMVIVER
SETEMBRO 2014
é reintegrar os menores nas famílias de origem,
muitas permanecem nos abrigos por mais tempo.
Essa demora pode ser decisiva na vida do me-
nor. "Quando se busca esgotar as possibilidades
de manutenção da criança na família de origem,
as chances de ganhar novos pais são menores",
diz a advogada Silvana do Monte Moreira, pre-
sidente da Comissão de Adoção do Instituto
Brasileiro de Direito da Família (IBDFAM).
Outro problema é o critério de seleção dos
pais adotivos. Uma estimativa do CNA aponta
que a maior parte prefere crianças de até cinco
anos e que cerca de 25 mil não aceitam irmãos
biológicos, sendo que a maioria tem justamente
esse perfil.
A FORÇA DO DIÁLOGO
Na contramão dessa tendência, a analista de qua-
lidade Dircilene Figueiredo da Silva Andrade, de
44 anos, adotou, em 2004, as irmãs Renata, Lua-
na e Angélica, com respectivamente três, quatro
e cinco anos. "De um modo geral, foi tudo muito
fácil. As meninas são dóceis, carismáticas e sen-
síveis e sempre se mostraram atentas ao que
ensinávamos", conta.
Como viviam em uma região carente, tudo
era novidade. "Elas não tinham acesso à maio-
ria das coisas básicas, como energia elétrica,
água encanada, casa estruturada, carro e tele-
visão", lembra. Apesar disso, aprenderam a li-
dar bem com o passado e a aceitar a nova re-
alidade. "É raro, mas quando querem conversar
sobre isso, nós nos mostramos abertos. Não
podemos negar a elas a história da qual fazem
parte", diz.
Filha adotiva, a analista de contas médicas Cris-
tiane Funari também não encontrou dificuldades
para lidar com o passado. Como sua mãe sempre
foi honesta e transparente com todas as filhas -
suas duas irmãs também foram adotadas -, ela
conta que nunca teve motivos para se revoltar.
"Quando se é adotado, você é abraçado por uma
família cheia de amor, enquanto tudo que a crian-
ça quer é atenção e dedicação", acredita.
Para ela, o maior desafio é fazer com que os
pais avaliem se a adoção é de fato um desejo
em comum ou apenas a solução para um pro-
blema que a vida causou. "Adotar não é só um
ato de caridade, é ter a responsabilidade de cui-
dar de outra vida e dar a ela tudo o que precisa".
"Asmeninas são
dóceis, carismáticas e
sensíveis e sempre se
mostraramatentas ao
queensinávamos"
DircileneFigueiredodaSilvaAndrade
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