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O fácil e amplo acesso à informação pro-
porcionado pelo avanço e popularização da
tecnologia também está sendo refletido na
forma como os médicos se relacionam com
seus pacientes. Conhecimentos gerais e espe-
cíficos sobre higiene, alimentação, entre outros
cuidados com o corpo são importantes para a
prevenção de doenças e para a manutenção da
saúde. No entanto, atualmente, até mesmo in-
formações sobre tratamentos médicos são cada
vez mais acessíveis e fazem surgir a figura do
paciente informado: aquele que tem capacidade
para dialogar com seu médico sobre os mais
diversos assuntos e especialidades. É o tipo
de pessoa que conhece melhor seu corpo, sua
saúde, seu potencial e suas limitações.
Se por um lado esse novo panorama pode
contribuir para melhores diagnósticos e trata-
mentos médicos mais efetivos, já que estimu-
lam a busca constante de conhecimento pelos
atuantes na área, por outro lado, traz algumas
dificuldades na relação médico-paciente, já que
Cabe ao
profissional
perceber no
paciente
suas
incertezas
e, se estiver ao
seu
alcance,
esclarecê-las
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a m p l a
alguns profissionais se sentem incomodados
diante desse comportamento.
Três pesquisadores da Fiocruz realizaram
um estudo para tentar responder até que ponto
esse paciente "expert", munido de informações
obtidas na internet, pode transformar a rela-
ção médico-paciente? Eles constataram que o
assunto divide opiniões.
As análises foram feitas com base em arti-
gos produzidos entre 1997 a 2005 e assinados
por pesquisadores de Reino Unido, Holanda,
Estados Unidos e Canadá, publicados em duas
revistas científicas britânicas de renome, "Social
Science and Medicine" e "Sociology of Health
& Illness". Os materiais foram avaliados em
três categorias, de acordo com os pontos de
vista apresentados. Apesar das diferenças entre
as categorias, os pesquisadores conseguiram
identificar algumas características comuns.
Segundo os estudiosos, a maioria dos artigos
entendia que os "pacientes que têm acesso às
informações, via internet, tornam-se potencial-
mente poderosos". Para os autores, essa condi-
ção pode influir e até transformar a relação dos
médicos com seus pacientes.
Tempo para escutar e absorver
Em
termos gerais, os pesquisadores concluíram que
"é fundamental que os profissionais procurem
trabalhar com o paciente, em vez de para ele,
usando mais tempo para escutar, absorver e
valorizar as necessidades cognitivas, sociais e
emocionais de seus pacientes", afirmaram os
estudiosos da Fiocruz.
Dessa forma, na opinião deles, o médico
deve fornecer informações de boa qualidade,
discutir questões referentes ao diagnósti-
co, tratamento e resultados, respeitando os
desejos do paciente em relação à tomada de
decisões, sendo fundamental que os próprios
médicos se mantenham informados e atuali-
zados. No entanto, segundo destacou uma das
estudiosas da pesquisa, é preciso entender a
dificuldade de realizar tal tarefa em consultas
médicas de 10 ou 15 minutos.
De acordo com o médico Miguel Ibrahim
Hanna, professor da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), o perfil de paciente que "tudo sabe"
representa um desafio para os antigos e novos
médicos. Segundo explica Hanna, hoje o paciente
pode escolher o médico e no processo de escolha
vários são os fatores envolvidos. "É possível procu-
rar outro profissional com certa facilidade. A forma
como o vínculo se estabelece se modificou. É
preciso tempo para ouvir e clareza para responder.
É preciso cada vez mais ser convincente", orienta.
jul/ago/set 2014