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Claro que não! De lá pra cá, os bolachões mantiveram
um seleto, reduzido, mas fiel grupo de apreciadores
e colecionadores, que agora "mostram as garras"
novamente e voltam a atrair um número crescente de
adeptos.
Luiz Antônio Menegotto, mais conhecido pelo
apelido de Gota, tem uma loja no Centro Comercial
ARS, em Florianópolis, há 22 anos, e dispõe de um
acervo de aproximadamente dois mil LPs. Ele é um
dos organizadores, há cerca de dez anos, da Feira de
Vinil, na capital catarinense. O colecionador conta
que a procura pelos grandes discos voltou a crescer
há aproximadamente cinco anos. Hoje, ele oferece
lançamentos, mas também aceita encomendas tanto de
LPs quanto de CDs. Fã do formato bolachão, Menegotto
diz que assistiu a ascensão e a queda do CD bem no seu
auge e atribui o fato aos downloads, MP3 e à pirataria
descontrolada. "O vinil é mais difícil piratear. Além disso,
é gostoso manusear o disco e curtir as capas. É outro
astral".
Segundo ele, o interesse pelos LPs aumentou ainda
mais com a reabertura da fábrica de vinis Polysom, que
lançou novos discos em vinil e relançou títulos antigos,
como os nacionais Erasmo Carlos, Novos Baianos, Los
Hermanos, Caetano Veloso e Pitty, entre outros. "Aqui
na loja os mais vendidos são os discos de rock, depois
os de reggae e jazz. Os de MPB são pouco procurados.
Muitos dos novos discos vêm com CD de bônus, ou com
o código de download para baixar as mesmas músicas
do vinil. O interessante é que vem crescendo o interesse
dos jovens por este tipo demídiamais antiga, não apenas
entre os saudosistas e colecionadores veteranos".
Para os verdadeiros apreciadores, a volta do bolachão
se deve muito à qualidade do som, que é bem diferente
ao dos CDs, por ser mais puro, possibilitando distinguir
melhor cada instrumento musical. Até quem nasceu
no final dos anos 90 e curte a boa música, se já teve
oportunidade de comparar as duas mídias vai adorar
o som que sai de um bom LP. Nos sebos da cidade, os
valores dos discos usados variam de R$ 5,00 a R$ 250.
Quanto mais raro, mais caro, desde que esteja em bom
estado de conservação. Os importados também têm
valor maior. Já os novos, que foram lançados em anos
recentes, são vendidos a partir de R$ 70,00. E se antes
desta febre subir eles comercializavam cinco a dez por
mês, hoje o número ultrapassa os 70 LPs mensais.
O colecionador Maurício Ferreira, de São José, tem um
acervo estimado de 4.500 discos de vinil. Ele compra e
vende usados. Participa da feira de antiguidades realizada
todos os sábados, no centro da capital, e também na
anual Sopa de Siri, que acontece no Centro Histórico de
São José, que já está na 10ª edição. "Para esses eventos
eu costumo levar de 300 a 400 LPs, que são vendidos
para pessoas de todas as idades. O interessante é que,
ao contrário do que ocorre com as novas mídias, que
com o tempo apagam, os discos de vinil podem durar
para sempre. Além disso, as músicas que são baixadas
no computador estão acessíveis para qualquer pessoa,
mas cada vinil é único, é histórico. Sem falar no contato
com as capas; algumas são verdadeiras obras de arte
e contêm informações sobre os artistas; outras ainda
guardam pôsteres dos cantores e bandas. É muito
diferente de um CD, ou pen drive", conta entusiasmado.
Ele é categórico ao afirmar que os vinis nunca deixaram
de ser produzidos, apenas tiveram um intervalo aqui
no Brasil. "Eu coleciono desde a minha adolescência. A
música sempre foi minha paixão. Hoje lido com a venda
de vinil, não para ficar rico, mas por puro prazer".