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Sexo, morte, violência: como falar de temas difíceis com seu filho?

Sexo, morte, violência: como falar de temas difíceis com seu filho?

Psicanalista recomenda sempre falar a verdade à criança, independente da idade

Sexo, morte, violência: como falar de temas difíceis com seu filho?

12 Setembro 2012

Ok, todo mundo sabe que ter filhos não é fácil. Mas existem situações em que a dificuldade aumenta ainda mais. Encarar o rubor e responder as perguntas embaraçosas das crianças sobre sexo ou driblar a tristeza para contar que seu filho pode não ver mais o avô que está doente não são tarefas fáceis. A psicanalista Anne Lise Scappaticci, terapeuta familiar e colunista da revista Crescer, recomenda sempre falar a verdade, independente da circunstância que gerou a pergunta.

“A transparência deve marcar a relação. No fundo, por menor que seja, a criança tem uma intuição muito forte que a faz distinguir o que é real do que é invenção dos pais. Ela não consegue representar aquilo que sente, mas tem noção da verdade dos fatos”, explica Anne Lise. Mentir ou inventar histórias para amenizar uma situação são atitudes que vão contra o saber intuitivo das crianças e podem provocar uma frustração futura, quando ela se deparar com a verdade.

“A criança conta com um preparo muito mais à flor da pele que os adultos. Nós já criamos várias defesas, como se fossem camadas de uma cebola, que nos fortalecem para vivenciar situações desagradáveis. Os pequenos entram em contato com o primitivo e usam o saber intuitivo para enfrentá-las”, comenta a psicanalista.

“Ao contrário do que muitos pensam, a criança sabe e entende coisas que nós nem imaginamos”, observa a colunista da Crescer.

Além de falar a verdade, os pais devem respeitar os limites da criança. Tocar no assunto somente quando seu filho perguntar, não ir além do motivo da dúvida e estimular a curiosidade são dicas que Anne Lise recomenda quando chega a hora de abordar assuntos difíceis. “As palavras dos pais têm de ser claras para sanar as dúvidas das crianças e tranquilizá-las”, considera a psicanalista. 


Confira recomendações da especialista sobre como falar a verdade ao seu filho

Dúvidas sobre como explicar a possibilidade da perda ou da morte atormentam a cabeça de muitos pais. Antes de tocar no assunto com a criança, é importante refletir se o tema soa natural para os pais. Anne Lise Scappaticci recomenda explicar que a morte é inevitável já que faz parte de um ciclo da vida.

Os pais podem abordar o assunto de forma lúdica, por exemplo, com o recurso dos símbolos, para que a criança entenda, de fato o que o ocorreu, mas a sua maneira.

Amenizar o fato de alguém ter morrido com expressões como “foi viajar” ou “foi passear” não é indicado. Quem viaja ou passeia geralmente volta. Além de criar uma expectativa sobre um retorno que não virá, a criança pode pensar “por que ele saiu sem se despedir de mim?", pondera a psicanalista. 


Antes de responderem as perguntas dos filhos, os pais precisam se sentir preparados para lidar com elas. O sexo não pode ser um tabu, senão as respostas tendem a ser equivocadas e preconceituosas. Até quem tem a “cabeça aberta” pode se enrolar com uma pergunta, porque as dúvidas surgem a seco, sem nenhum aviso prévio. Para não comprometer a resposta, procure resolver seus medos e ansiedades antes de a pergunta infantil vir à tona.

“A criança tem uma grande tendência a acreditar no que a mãe e o pai dizem. Se eles falam que a cegonha trouxe o bebê, a relação de confiança com a família ficará comprometida quando a criança perceber que a cegonha não traz ninguém ao mundo”, observa a psicanalista.

O importante é falar sempre a verdade e não invadir o espaço da criança. Quando a criança pergunta sobre como chegou ao mundo, vale dizer que foi pela barriga da mãe. A partir daí, respeitar a curiosidade dela é a tônica. Se continuar e questionar como foi parar ali dentro, pode-se falar que o pai colocou uma sementinha na mãe, que tinha um ovinho dentro, que formou o bebê e fez a barriga da mãe crescer.

Usar pormenores e detalhar a cena sexual é prejudicial para a criança. Não valorize sentimentos e sensações aos quais ela não está preparada para ter, pois isso pode estimular a erotização precoce.

Beijo
Já aconteceu de seu filho pedir beijos como os “da novela”? Deixe o constrangimento de lado e seja direto ao dizer que este tipo de beijo só é trocado entre os casais. Explique que um dia a criança terá um namorado (a) e que poderá beijá-lo desta forma. Fale que os beijos que você dá no seu filho demonstram carinho e não, paixão, como são os “da novela”. A atitude evita a idealização do amor da mãe e do pai e deixa claro o que cabe aos papéis de filho, marido e mulher.

Masturbação
Se seu filho gosta de se tocar em público, procure não repreender a criança na frente dos outros para não reprimir a sexualidade. A sós com ela, explique que entende que passar a mão na vagina ou no pênis é gostoso, mas que há lugares para isso. O quarto e o banheiro são locais íntimos e seguros.
Nunca diga que se masturbar é feio e errado. Ressalte a importância de lavar as mãos antes da masturbação, o que pode evitar doenças.

Diferenças entre os corpos
Quando o filho pergunta “por que eu sou assim e você, não”?, entenda que a curiosidade dele se manifesta também em relação às mudanças corporais. Não corra o risco de chamar atenção da criança e trate o assunto com naturalidade. Explique que homens e mulheres são diferentes desde o nascimento e seguem as mesmas diferenças dos animaizinhos de estimação, por exemplo.

Tente passar o bacana da diferença e diga que não haveria a menor graça se só existissem meninos ou meninas no mundo.


Não atropele a criança com preconceitos e não coloque suas angústias nas respostas. Se ela questiona o por quê de dois homens estarem se beijando no shopping, não diga para ela “calar a boca” ou “isso não é assunto de criança”.


A psicanalista lembra que as crianças são "pequenos cientistas, atentos a tudo que os rodeia", logo, seja simples e objetivo nas respostas. Conte que existem casais que se formam com homens e mulheres e que há pessoas que gostam de outros do mesmo sexo. Diga que todos são livres para escolherem quem quiserem namorar ou casar e procure não passar nenhum juízo de valor.


Intuitivamente, a criança percebe que o casal está com problemas. Essa deve ser a explicação utilizada para justificar a separação dos pais. Comente que o pai e a mãe não se gostam mais o suficiente para morar na mesma casa, que brigam muito e ficam tristes, mas que nunca deixarão de amar o filho. “Mostre à criança que quem está se separando é o casal, não a mãe, ou o pai do filho”, indica Anne Lise.

Fale sobre a situação real e não prometa o que não poderá cumprir. “Se a criança cresce com a verdade, fará a vida dela da melhor forma. Fortalecida e consciente sobre como lidar com as frustrações e sofrimento”, observa a psicanalista da Revista Crescer.


“Precisamos educar nossos filhos falando que o mal existe e, ao mesmo tempo, ensiná-los a se defender. É uma forma bem diferente da qual a maioria dos pais foi educada”, pondera Anne Lise.

A terapeuta familiar recomenda ensinar que há pessoas más, que matam, maltratam e roubam, mas ressalta que o assunto deve ser abordado de uma forma delicada, sem causar estresse ou pânico.

Ao perceber a violência, a criança aprende a crescer atenta aos perigos. Hábitos como entrar rápido no carro, não andar de vidros abertos, ou segurar a bolsa junto ao corpo devem ser ensinados, quando não são aprendidos pela observação.

“É preciso mostrar ao seu filho a importância de ele se defender, de não se deixar ser humilhado”, ressalta Anne Lise.

Se há alguém na escola que o maltrata, a criança precisa ser forte para encará-lo, segurá-lo ou respondê-lo a altura.


A criança deve receber limites desde cedo para saber claramente quais são as limitações dos pais. É importante não ceder as chantagens emocionais dos pequenos e não tentar compensar o tempo que se passa fora de casa por meio de presentes caros.

Lembrancinhas podem ser dadas, mas itens de maior valor devem ser oferecidos somente em datas especiais, como aniversário e Natal.


Repórter: Francine Cadore Designer: Pabla Vieira

Conteúdo aprovado pelo responsável técnico-científico do Portal Unimed.


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