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Médica Endocrinologista da Unimed Marília responde perguntas frequentes sobre Obesidade durante o Mês Mundial de Conscientização

Dra. Katy Luciane Motta explica as causas e consequências da doença
Texto: Andressa Menezes
Design: Divulgação/Unimed Marília
        20 de março, 2023
No dia 4 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu como o Dia Mundial da Obesidade visando disseminar conhecimentos sobre a doença. A Unimed Marília convidou a Dra. Katy Luciane Motta, médica endocrinologista, para responder as principais dúvidas sobre o tema.

1- Qual é a causa da obesidade?
A obesidade, considerada uma doença crônica pela World Obesity Federation (WOF), é uma condição multifatorial e recidivante, ou seja, com altas chances de recaída. Não podemos, de uma maneira simplista, olhar a obesidade como consequência exclusiva de maus hábitos. Precisamos realmente mudar nosso olhar sobre o indivíduo que vive com obesidade, compreender sua história e os múltiplos aspectos que o levaram a conviver com essa morbidade.
O consumo crescente de alimentos ultraprocessados, rico em calorias e de baixo valor nutricional, é um dos importantes fatores para o aumento da incidência da obesidade no mundo. Outro fato que tem contribuído para esse aumento da obesidade é a falta de tempo para programar e preparar refeições, assim como um menor acesso a alimentos in natura, que se tornam mais caros ao consumidor quando comparados a alimentos como macarrão instantâneo, salsicha, refrigerantes. Contribuem para o agravamento desse cenário a falta de políticas públicas que considerem essa situação. O Brasil é um país com uma série de subsídios e incentivos fiscais a esses tipos de alimentos industrializados e pouco apoio aos pequenos agricultores na produção de frutas e legumes.
O sedentarismo é outro ponto a ser considerado na gênese da obesidade, fruto da vida moderna nas cidades, mesmo entre crianças e adolescentes, ligado muito à internet, celulares, jogos eletrônicos, poucas oportunidades para realização de práticas esportivas e falta de espaços públicos seguros onde possam realizar atividades ao ar livre.
Também devemos avaliar, além dessas questões, o risco individual para desenvolvimento de uma doença como, por exemplo, a predisposição genética.

2- Como a obesidade é diagnosticada e quais são os principais fatores de risco?
Para diagnóstico do acúmulo excessivo de gordura corporal usamos mais amplamente o índice de massa corporal (IMC), definido pelo peso (KG) dividido pela altura ao quadrado(m2). Consideramos obeso o indivíduo com IMC acima de 29,9 kg/m2 e com sobrepeso indivíduos com IMC entre de 25 e 29,9 kg/m2.  Outra forma muito importante de avaliação do risco da obesidade é estimar a gordura na região abdominal usando a medida da cintura ou a relação cintura-quadril. A obesidade da região abdominal, definida, segundo a OMS, como medida da cintura acima de 102cm em homens e 88cm em mulheres, está associada há um elevado risco cardiovascular.

3- Quais os principais problemas de saúde associados à obesidade?
A obesidade está associada a múltiplas complicações, como diabete, hipertensão, doença cardiovascular, vários tipos de câncer, sobrecarga para as articulações, apneia do sono e morte prematura. Há um grande impacto na qualidade de vida e quanto mais precoce o desenvolvimento da obesidade e maior o tempo de convívio com essa doença, maior será o dano ao organismo.
 

4- Qual a melhor dieta para perder peso e controlar a obesidade?
A melhor dieta precisa ser pensada individualmente. Planos alimentares que respeitem a rotina e o gosto do paciente. Lembrando que ele mesmo precisará muitas vezes rever seus próprios preconceitos em relação àquilo que gosta ou não de comer. Precisamos privilegiar alimentos in natura, preparados em casa e diminuir o consumo de alimentos processados, refrigerantes, bebidas adoçadas. Lembrando que não existem alimentos proibidos. A dieta deve ser equilibrada nutricionalmente e em quantidades adequadas para o nosso gasto calórico.

5- Qual é o papel dos medicamentos para tratar a obesidade e quais os seus efeitos colaterais?
O avanço das pesquisas trouxe novas opções medicamentosas para o tratamento da obesidade, mais seguras e eficazes. Uma abordagem clínica multidisciplinar, motivacional, focada em mudanças de hábitos alimentares e atividade física é condição fundamental para atingirmos um resultado no tratamento da obesidade. No entanto, em se tratando de condição crônica, recidivante e multifatorial, a eficácia dessas medidas pode não ser suficiente. Neste caso, o tratamento com medicamento estaria indicado. 
O uso das novas terapêuticas, análogos do GLP1, tem mostrado bons resultados. Essas novas drogas podem apresentar frequentemente efeitos colaterais como náuseas e alterações no trânsito intestinal. Seu uso também parece aumentar o risco de colelitíase, o que aumentaria o risco de pancreatite como um efeito colateral mais raro deste tratamento. Lembrando que estamos falando de novas medicações e os riscos e benefícios, como em qualquer tratamento, deve ser sempre avaliado por um médico.

6- Quais os principais mitos sobre a obesidade e como evitá-los?
Um dos mitos que precisamos questionar é de que a obesidade é uma escolha, ou que o obeso é um preguiçoso e, para perder peso, basta apenas comer menos e se exercitar mais. A obesidade é multifatorial e, embora dieta e exercício tenham um papel fundamental, há muito mais por trás dessa condição.
Outro mito é a obesidade ser causada pela ingestão de doces e carboidratos, quando de fato todos os alimentos poderiam ser consumidos, observando sempre a quantidade e a qualidade da sua dieta.
Existe também a crença de que quanto mais quilos perdidos, melhor é o tratamento. Na verdade, a obesidade é uma doença crônica e recidivante e a perda de quantidades mais modestas de peso, como 5 a 10% do peso total e a sua manutenção, já provoca grande melhora clínica, diminuindo a ocorrência das morbidades relacionadas à obesidade, como hipertensão e diabete. 

7- Como a obesidade pode afetar a saúde mental dos pacientes?
Embora um problema que acomete cada vez mais pessoas, o estigma sobre a obesidade se mantém em nossa sociedade, podendo acarretar extenso problema de saúde mental para esses indivíduos. Como tema para o dia Mundial da Obesidade, a ABESO e a SBEM nacional trazem esse ano a campanha: “Um outro jeito de olhar: vamos falar sobre obesidade”. O objetivo é permitir um novo olhar sobre o indivíduo que sofre com a obesidade, mitigando os danos emocionais promovidos pelo preconceito. 

8- Comente sobre o aumento do número de casos de obesidade. Qual faixa etária e classe social tem sido mais afetada?
O Atlas Mundial de Obesidade 2023, publicado pela WOF, estima que o nível global de obesidade está aumentando, podendo atingir aproximadamente 2 bilhões de pessoas entre adultos, crianças e adolescentes até 2035. É esperado que o aumento mais acentuado ocorra entre crianças e adolescentes, saindo de 10% para 20% em meninos e de 8 para 18% em meninas no período de 2020 a 2035. Fatores genéticos somam-se a um estilo de vida sedentário e o consumo crescente de alimentos processados, como refrigerantes. Impactando ainda mais essa realidade, temos a pandemia da Covid-19 e a falta de políticas públicas favoráveis. Classes economicamente menos favorecidas também estão sendo mais afetadas pela obesidade, reforçando que a boa nutrição não é apenas uma escolha nossa e opções mais saudáveis podem ser menos acessíveis para essa população.

9- Qual o papel do endocrinologista no tratamento da obesidade?
O endocrinologista é o médico especialista em obesidade, mas precisamos compreender que a obesidade é uma condição multifatorial, com aspectos físicos e psicológicos e requer uma abordagem multidisciplinar.
Cabe ao endocrinologista falar sobre a obesidade ao paciente e seus familiares de maneira franca, abordar suas dificuldades, removendo estigmas e motivando mudanças comportamentais, intervir com tratamento medicamentoso quando assim indicado e avaliar e gerir comorbidades.

Consulte um endocrinologista: http://www.unimed.coop.br/site/web/marilia/guia-medico