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Revista Conexão - Outubro / Novembro / Dezembro de 2014 - Edição 15

CAPA / ENTREVISTA

Por que as pessoas têm dificuldade

emmudar ou se reinventar?

Às vezes, achamos que estamos indo

junto com o tempo, mas, na verdade, não

vamos, ficamos acomodados na nossa ca-

sinha e depois não sabemos o motivo de

as coisas não acontecerem. Ficamos tão

preocupados com o outro, distraídos em

saber o que ele está fazendo, melhorando

ou perdendo, que não olhamos para nós

mesmos e a nossa vida passa batida. É um

desgaste inútil de energia. É nesse mo-

mento que você se perde e não consegue

crescer e se desenvolver. Nós só quere-

mos a vida bela, com nuvenzinha cor de

rosa e muita alegria. Só que isso não re-

presenta a vida: a vida é feita de lado A e

lado B. Esses momentos também são im-

portantes para nos fazer crescer, só que

nem sempre sabemos aproveitá-los

dessa forma.

Como é viajar e se aventurar por tan-

tos lugares a serviço da comunicação?

Isso é o que eu sei e o que eu gosto

de fazer. O mundo está aí para conhecer-

mos. Nós nascemos em uma cidade e em

um país, mas vivemos em um planeta que

é lindo. Quando viajo, não é que estou co-

nhecendo a geografia, mas que estou

diante de pessoas, de sentimentos que

me fazem melhorar. Olhar para outras

culturas torna as coisas mais claras e

compreensíveis e nos faz amadurecer. É

exatamente isso que viajar significa para

mim: conhecer cada vez mais o ser hu-

mano, a alma das pessoas. Ou seja, viajar

é uma descoberta de mim mesma, é uma

análise interior. Quanto mais você vai para

o mundo, mais se conhece.

Saberia dizer em quantos países já

visitou e qual considera o mais atípico?

Já percorri quase 150 países. Eu

gosto do mundo, mas a Índia, África,

França e Escócia me marcaram muito

pela cultura e pelas paisagens. Mas cada

lugar tem a ver com a fase em que você

se encontra, com o que você quer e como

você é. Quanto mais eu viajo, mais eu

quero ir. Não abri mão de nada para con-

seguir viajar dessa forma, muito pelo

contrário, esse tipo de trabalho me deu

muitas coisas.

Qual foi a aventura mais inusitada ou

marcante de que aceitou participar?

A travessia de um balão para o outro,

a 3.500 metros de altura. Até hoje eu não

sei como consegui fazer aquilo. Mas esse

foi um obstáculo que me deu forças para

superar outras fragilidades da minha vida.

Quando estava lá no alto, pensei: “vou ter

que conseguir fazer várias travessias ao

longo da minha vida”. Por isso, não podia

deixar que um obstáculo me parasse.

Outra aventura marcante foi quando subi

o Himalaia e cheguei até ao acampa-

mento-base do pico do Everest. Foi uma

experiência lindíssima, e se pudesse vol-

taria lá uma vez ao ano. As pessoas acham

que tenho “veia de atleta”, mas não é

nada disso. Não ganho um centavo a mais

para fazer as aventuras que aparecem,

morro de medo de altura e não sei nadar.

Mas acredito que são as experiências que

me fazem ser a pessoa que sou hoje. E,

por isso, faria tudo de novo.

A Federação Nacional dos Jornalis-

tas (Fenaj) apresentou um levantamento

que mostra que as mulheres represen-

tam 64% dos jornalistas brasileiros.

Apesar disso, os homens são predomi-

nantes na ocupação de cargos de chefia.

Outro dado marcante é o número de jor-

nalistas brancos e negros. De acordo

com o Censo 2000 do Instituto Brasi-

leiro de Geografia e Estatística (IBGE),

15,4% dos profissionais são negros con-

tra 82,8% de brancos. Dentro desses

comparativos, pode dizer se enfrentou

ou testemunhou algum preconceito du-

rante a sua carreira?

Sim, e continuo enfrentando. Quando

você nasce mulher e negra, em qualquer

lugar do mundo, você já surge em uma si-

tuação de desvantagem e terá que en-

frentar obstáculos e preconceitos ao

longo da vida. O segredo é saber se pre-

parar para lidar melhor com eles. Os pro-

blemas estão aí, mas temos que buscar

solução. Não podemos ficar o tempo todo

remoendo essa questão. Tem racismo?

Sim, e muito. Teve no passado, tem agora

e terá no futuro. Mas isso eu já sei. Então,