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As máscaras estão caindo!

        29 de março, 2022
Por Dr. Michel Vieira 

Houve um tempo em que essa expressão era uma boa notícia. Nestes tempos de agora, talvez ela traga também um pouco de angústia. Afinal, foram dois anos de traumas, envolvendo perdas de entes queridos, a solidão do isolamento, sem contar os muitos de nós que pegaram a doença. 

Mas, pelo que andamos vendo e ouvindo, segundo o que as autoridades políticas e sanitárias estão fazendo, parece que a hora da vida voltar ao normal está finalmente chegando. E, por incrível que possa parecer, a pergunta é: estamos prontos para isso? A resposta mais plausível é que, talvez, estejamos mais cansados da vida como vinha sendo até agora do que prontos para retomá-la como era antes da pandemia.

As indicações nos orientam que podemos andar sem máscaras em lugares abertos e fechados (com algumas exceções). Esse tipo de decisão é muito ponderada pelas autoridades antes de ser tomada. Não poderíamos aproveitar então? Vai ficar melhor de se exercitar ao ar livre, com o rosto livre, sentindo o ventinho. Vamos poder nos encontrar em espaços abertos com nossos familiares e amigos com maior tranquilidade. Nossas crianças vão poder brincar nesses espaços. Não é tudo, mas também não é pouco. 

Porém, além do desfrute dessas “novas” alternativas, talvez pudéssemos trabalhar melhor nosso tão constante quanto indesejável companheiro durante esses longos últimos meses: o medo. O medo tende a fazer com que tenhamos atitudes extremas, para os dois lados. Ou ele nos domina e nos coloca trancados em casa usando máscara e tomando banho de álcool gel, ou ele nos oprime até o ponto de negarmos a realidade e “esquecemos” a vacina ou nos embrenhamos em baladas cheias de gente e de vírus. Claro que o meio termo entre essas situações foi naturalmente sendo encontrado por todos, até por uma questão de sobrevivência. Mas pode continuar a ser buscado e, para tanto, teremos que aprender a domar o nosso medo.

Há um mantra meio estranho que pode ser repetido para nos ajudar a tomar as decisões nesta fase: vamos entender que “se pode, é porque pode”. Esquisito? Se pode ir ao cinema, é porque pode – sempre com os cuidados especificados nas salas. Se pode ir ao estádio, é porque pode, se pode ir a shows, peças de teatro, museus, parques, shoppings, restaurantes, é... porque pode. Se seus filhos podem ir à escola, é porque podem. Se pode visitar seus pais, é porque pode. 
Claro que restam dúvidas. Cumprimento apertando as mãos ou com soquinho? Sopro as velinhas do bolo ou dou uma abanadinha? Ainda precisa de álcool em gel? Vai ter a quarta dose? Sempre vai ter um lugar onde você pode ter essas informações, bem fácil. 

Mas a vida precisa seguir, com leveza, responsabilidade, respeito ao próximo e com os cuidados devidos. Com ou sem pandemia, essas coisas sempre foram necessárias para se viver em sociedade, nenhuma delas é novidade. A sensação de medo trazida pela pandemia veio do sentimento de descontrole e desamparo frente uma ameaça de morte. Essa ameaça está bem diminuída. Muitos de nós estamos vacinados, inclusive nossas crianças e adolescentes.

As pessoas têm, cada uma, o seu tempo. É preciso que isso seja também bem entendido. Não há uma regra. Vivenciamos a dor da pandemia de um jeito diferente, às vezes dentro da mesma família cada um encarou de uma forma. É bom que se respeite o tempo de cada um, isso tornará tudo mais fácil. 

Falamos de medo até aqui, mas não falaremos de coragem. Coragem foi tudo que tivemos até agora. Precisamos ter paz. Paz de alma, paz nos pensamentos. Devagarinho saindo de casa, indo presencialmente ao trabalho, se divertindo em espaços públicos, frequentando nossos amigos e familiares. Com responsabilidade, sem aglomerações e deixando entrar a sensação de que finalmente está acabando.