Revista Ampla - Ediçãom 30 - page 14

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R e v i s ta A m p l a
Uma das críticas à medicina que
se pratica hoje, ainda em muitos paí-
ses, é aquela em que os pacientes são
padronizados. "Nós aprendemos na
faculdade a encaixar as pessoas nas
doenças, mas não nos encaixamos à
necessidade delas". Para ele, o para-
doxo da atenção primária e médicos
de Família, em que se segue menos
o protocolo e consegue-se mais resul-
tados é muito interessante. "É isso
que os nossos pacientes desejam da
gente, que olhemos mais para eles e
não para a doença. E olhar para eles
significa também encarar o estilo de
vida tóxico que a maioria de nós tem
levado", afirmou.
A medicina que privilegia mais a
tecnologia do que o contato humano
vem sendo bastante questionada. Os
dados revelam que esse fato é mui-
to preocupante. O erro médico já é
a quarta causa de morte no mundo.
E isso demonstra uma "desassistên-
cia às pessoas", algumas chegam a
ter oito especialistas as atendendo
ao mesmo tempo e ninguém coorde-
nando esse atendimento, orientando,
verificando a interação medicamen-
tosa, entre outros. Do mesmo modo,
o excesso de exames solicitados a
cada paciente revela outro problema
importante: o excesso de diagnóstico
e a falta de confiança nesse diagnós-
tico. "Afinal, se eu não confio em
meu médico, também não vou confiar
no resultado dos exames pedidos por
ele". A APS não pretende restringir,
mas ampliar e qualificar o acesso.
Para Kolling, o grande diferencial
da APS é o fato de ela orientar-se pe-
los princípios da universalidade, da
acessibilidade e da coordenação do
cuidado, do vínculo e da continuida-
de, da integralidade, da responsabili-
zação, da humanização, da equidade
e da participação social. É você de
fato ter "um médico para chamar de
seu". Uma equipe que pense na sua
saúde em todos os aspectos e que
monitore essa saúde. Dessa forma,
as enfermidades acabam sendo mais
fáceis de serem tratadas. Diferente-
mente, quando se pensa apenas nas
enfermidades. Os especialistas de ou-
tras áreas entram no processo usando
todo a sua expertise nos casos mais
complexos, que estão no seu nível de
especialização. Porém, existe alguém
coordenando todo o processo, efe-
tivamente cuidando do paciente em
questão.
Essa ideia também estava presen-
te na fala da médica americana Kirs-
ten K. Meinsinger, da Union Square
Family Health Center, que apresentou
os trabalhos desenvolvidos nos EUA
em relação à saúde primária e apon-
tou acertos e desafios do sistema de
saúde norte-americano. Ela lembrou
que os Estados Unidos estão gastan-
do mais dinheiro em saúde do que em
outros tempos. No entanto, os esta-
dos que estão gastando mais em saú-
de não são, necessariamente, os que
oferecem um serviço de mais qualida-
de", alertou.
Equipe especializada
A boa notícia
é que a APS começa a tomar uma di-
mensão importante também nos EUA.
Segundo Kirsten, nos Estados Unidos
ainda existem poucos médicos de
atenção primária e muitos especialis-
tas de outras áreas, mas isso já co-
meça a mudar. De acordo com ela, os
resultados positivos, que os núcleos
existentes voltados à atenção primá-
ria estão obtendo, deverão impulsio-
A médica americana Kirsten Meinsinger apresentou os trabalhos de APS desenvolvidos nos EUA
E s p e c i a l
É você, de fato,
ter "um médico
para chamar de
seu". Uma equipe
que pense na sua
saúde em todos
os aspectos e que
monitore essa
saúde.
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