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UTI humanizada: um novo conceito para Chapecó

Rede de apoio contribui para recuperação dos pacientes críticos internados
Texto: MB Comunicação
        06 de agosto, 2024
Humanização no atendimento ao paciente, implantação de novas técnicas terapêuticas, equipe multidisciplinar qualificada e estrutura adequada para promover o conforto do paciente e seu familiar durante o tratamento. Esses são alguns diferenciais que, aliados aos excelentes indicadores de desempenho considerando padrões internacionais, contribuem para o reconhecimento da nova Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto do Hospital Unimed Chapecó.

A estrutura conta com 20 leitos, todos individualizados, com banheiro privativo, luz natural, isolamento acústico e térmico, televisão e internet. Comodidades para proporcionar privacidade e segurança ao paciente e acompanhante. No último ano, a Unimed Chapecó investiu na construção desta nova área, aquisição de equipamentos, implantação de novas modalidades terapêuticas e na promoção da educação continuada à toda equipe.

De atuação mista, a UTI Adulto atendeu em 2023 aproximadamente 900 pacientes, com uma média de permanência de 3,6 dias. Entre os casos clínicos destacam-se pós-operatório cardiológico, neurológico ou oncológico, infecção, arritmia, Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), insuficiência respiratória, politraumatismo, queimadura, Acidente Vascular Cerebral (ACV), dengue e Covid-19. No local, o paciente é monitorizado 24 horas, amparado por uma equipe multiprofissional qualificada que tem à disposição equipamentos tecnológicos modernos. 

Atualmente atuam no setor 15 médicos, sendo sete intensivistas e os demais de outras especialidades, como cardiologistas, pneumologistas e nefrologistas. A equipe assistencial conta com aproximadamente 100 profissionais, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, odontólogos, psicólogos, fonoaudiólogas, nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais. 

HUMANIZAÇÃO
No momento de fragilidade o paciente procura instintivamente referenciais que transmitam acolhimento e segurança para o enfrentamento da doença grave e complexa. Seja a voz de um familiar próximo, sons ou cheiros que lembrem de sua casa ou rotina, fotografias ou objetos pessoais. Ele busca direcionamento para compreender seu estado, a exemplo de informações do procedimento que será realizado, conhecer quem está cuidando dele naquele dia, luz natural ou relógio no campo de visão.

Acolher e cuidar de maneira integral e segura, na assistência hospitalar, remete a esse olhar empático da equipe multiprofissional. Propósito que é seguido e incentivado na UTI Adulto do Hospital Unimed Chapecó, para proporcionar um atendimento humanizado e centrado no paciente, que vai além de suas necessidades físicas e abrange também o bem-estar emocional durante o internamento. Para isso, o setor compreende a importância da rede de apoio no processo de recuperação e disponibiliza suporte de assistência social e psicologia para o paciente e seus familiares.

Para a médica intensivista e coordenadora da UTI Adulto, Dra. Laísa Bonzanini, nesse modelo de cuidado fica evidente que a presença da família ao lado do paciente é fundamental para o tratamento da doença e para sua recuperação. “Desde que adotamos essa política de visitas estendidas das 9h às 21 horas, percebemos um menor nível de ansiedade tanto do paciente quanto dos familiares e melhor entendimento sobre à gravidade das situações apresentadas. Utilizamos menos analgésicos e sedativos, o que resultou na diminuição de complicações relacionadas ao uso dessas medicações e, consequentemente, redução do tempo de internação e do estresse pós-traumático”, analisa.

A coordenadora de enfermagem da UTI Adulto, Natieli Klein, destaca que, além de assegurar qualidade e segurança na assistência, o objetivo principal da equipe da UTI é proporcionar uma melhor experiência da internação, reforçando o compromisso da cooperativa médica em colocar o cliente no centro do cuidado. “Seguimos diversas diretrizes e protocolos baseados em evidências, visando reduzir as sequelas físicas, cognitivas e psicológicas decorrentes de uma internação em UTI. Além disso, pequenas ações fazem diferença, como chamar o paciente pelo nome ou apelido que ele prefere, tocar sua música favorita, informar o nome de todos os profissionais presentes no plantão, situá-lo quanto ao dia e horário, reforçar o plano terapêutico e a previsão de alta”, comenta.

Natieli acrescenta que “tudo o que realizamos na UTI tem como foco principal o paciente e sua família, pois não podemos separá-los. Nem sempre conseguiremos evitar o óbito, mas é essencial que os familiares tenham a certeza de que fizemos todo o esforço possível, utilizando todos os recursos disponíveis e cuidando do paciente com respeito e dignidade. No final, independentemente do desfecho, o que permanece é a experiência com o cuidado”.

Conforme dados monitorados pela UTI Adulto do Hospital Unimed Chapecó, de 60% a 70% dos pacientes internados permanecem acordados, o que reforça a importância da presença do familiar. “Aos que precisam ser sedados presenciamos cenas interessantes, como do acompanhante que colocou músicas das quais o paciente gostava para deixá-lo calmo e lembrá-lo do ambiente da casa. Em outras vezes, trouxeram áudios dos filhos, netos ou irmãos, fotografias, desenhos e até mesmo objetos pessoais ou religiosos. Isso favorece um maior conforto, principalmente, no momento de despertar e recobrar a consciência”, relata Dra. Laísa ao comentar que os familiares recebem as recomendações e os cuidados para evitar contaminação no leito.

MUDANÇA DE CULTURA
O conceito de UTI ser um local de fim de vida tem mudando com o tempo. Dra. Laísa comenta que nos últimos anos, foi realizado um trabalho intenso de conscientização na cooperativa médica, tanto para especialistas quanto para pacientes. “Antigamente tínhamos poucos leitos disponíveis nas UTIs do município. Os médicos estavam acostumados a solicitar leito apenas com o agravamento do paciente. Com a mudança do entendimento do corpo clínico, hoje temos pacientes eletivos que internam para evitar que seu quadro piore. Então, muitas vezes, o paciente já sabe durante a consulta que será operado, por exemplo, e depois acordará na UTI, porque isso faz parte do seu tratamento”, argumenta a médica intensivista.

Natieli complementa que a taxa de mortalidade geral da UTI Adulto é menor que 5% e que a taxa de mortalidade padronizada (TMP), ajustada de acordo com o perfil de gravidade e probabilidade de óbito, é inferior à 1. “O próprio conceito de terapia intensiva tem-se transformando para uma unidade de cuidados intensivos. Na maioria das vezes o paciente não precisa necessariamente de uma terapia intensiva, como é o caso de um pós-operatório. Necessita, neste caso, de cuidados intensivos, ou seja, estar monitorizado e acompanhado 24 horas por uma equipe multidisciplinar para evitar que qualquer risco relacionado ao procedimento se efetive”, explica.

O paciente e servidor público federal Márcio Luft, de 42 anos, ficou internado em janeiro deste ano por aproximadamente cinco dias na UTI Adulto do Hospital Unimed Chapecó e foi informado dessa etapa do tratamento ainda no consultório de seu cardiologista, Dr. Michel Wentz Antunes. Natural de Espumoso (RS), mas morador de Chapecó (SC) há mais de 20 anos, ele relembra que desde jovem sabia de sua condição denominada popularmente de “sopro no coração”, porém na época não foi orientado sobre a importância de acompanhamento médico. Em janeiro de 2023, fez exames por sentir vibração no peito quando foi diagnosticado com insuficiência na válvula mitral, uma herança genética. 

Com o acompanhamento do cardiologista foi observado, em 2023, o agravamento da condição e a necessidade de procedimento cirúrgico para plastia valvar. “Nunca tinha feito uma cirurgia. Procurei informações sobre o procedimento, sabia os percentuais de risco, que era delicado, mas me preparei para isso. Busquei até acompanhamento psicológico”, recorda o paciente. Márcio comenta que o atendimento na UTI lhe surpreendeu. “Foi uma experiência muito positiva, recebi a visita frequente dos médicos. Tive acompanhamento pós-cirúrgico com enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, o que não esperava. Me senti acolhido, seguro e tranquilo”, avalia. A satisfação pelo atendimento foi tanta que para agradecer comprou um quadro de arte e bombons para a equipe do setor.

AVANÇOS TECNOLÓGICOS
Nos últimos dois anos, o foco da equipe da UTI Adulto foi de implantar novas técnicas ou modalidades de suporte, que ainda não eram ofertadas na região e que trazem possibilidades de salvar vidas. Exemplos dessas atualizações são a hemodiálise contínua, a monitorização hemodinâmica avançada e o balão intra-aórtico. “Antes, quando um paciente apresentava um critério de utilização para elas, precisámos transferi-lo. Atualmente, fazemos tudo o que grandes centros disponibilizam, evitando que os pacientes se desloquem. Nosso único critério de transferência é a necessidade imediata de transplante. Todos os outros suportes à vida previstos no rol de terapias da ANS são ofertados aqui”, comenta Dra. Laísa.

A coordenadora de enfermagem Natieli explica que a monitorização de dados precisos permite acompanhar em tempo real o que está acontecendo com o paciente, fato que contribui para condutas mais assertivas. “Conforme nosso planejamento, neste ano, implantaremos uma monitorização hemodinâmica avançada, para pacientes extremamente graves, que atualmente está disponível apenas em grandes centros do país”, antecipa. Dra. Laísa complementa que o intuito é de possibilitar condições para sobrevivência. “Com essa monitorização avançada temos mais segurança no tratamento, para fazer especificamente o que ele precisa. Sabemos que podem ser poucos pacientes que precisem disso ao longo do ano, mas para eles queremos fazer a diferença”.

Outra novidade é a aquisição do balão intra-aórtico, um dispositivo mecânico que favorece o desempenho cardíaco. “Essa é uma modalidade de suporte para assistência circulatória, utilizado, por exemplo para o tratamento do choque cardiogênico. Ele permite que o coração do paciente descanse enquanto auxilia na circulação do sangue para todo o organismo. Seu funcionamento é controlado por um console, acoplado ao monitor cardíaco do paciente, o que permite uma sincronia entre o balão e as fases de contração e de relaxamento do coração”, explica o enfermeiro supervisor Jean Henrique Kruger.

PRIMEIRO DE SANTA CATARINA
A hemodiálise contínua é uma modalidade de diálise já existente em UTIs de grandes centros, e que recentemente, está sendo disponibilizada no Hospital Unimed Chapecó, um dos primeiros de Santa Catarina a oferecer este serviço aos seus pacientes. O processo ocorre de maneira lenta e constante durante 24 horas. Com a retirada de impurezas e do excesso de líquido do organismo de maneira gradual, há menor risco de instabilidade hemodinâmica durante o procedimento. Cada kit dura até 72 horas, e a terapia dialítica é reiniciada conforme indicação do médico nefrologista. “Esse avanço significa que a cooperativa médica se preocupa em oferecer de forma constante maiores cuidados e os melhores recursos em saúde para seus pacientes”, analisa a nefrologista e coordenadora do serviço renal e terapia dialítica da Unimed Chapecó, Dra. Marina Oliboni Moschetta. 

A médica intensivista e nefrologista Dra. Juliana Sonego Argente Foresti explica que a técnica é realizada apenas em pacientes internados na UTI, que apresentam instabilidade hemodinâmica ou risco de desequilíbrio, cardiopatas e com edema cerebral. “A hemodiálise convencional tem duração aproximada de três a quatro horas, realizada uma vez por dia, porém durante a diálise o paciente pode apresentar uma queda brusca de pressão arterial e desequilíbrio eletrolítico que impedem, muitas vezes, que a terapia dialítica possa ser conduzida e concluída. Alterações que não ocorrem na hemodiálise contínua”, explica.

Dra. Marina complementa que essa terapia é a escolha nos casos de pacientes muito graves e com falência de órgãos, que não toleram a terapia convencional. “Esse tratamento de insuficiência renal permite a remoção de escórias nitrogenadas, melhor controle do equilíbrio ácido básico e remoção de líquido”, ressalta. A especialista destaca que esse método é indicado ainda para pacientes com insuficiência hepática, hipertensão intracraniana e outras situações clínicas graves em que a osmolalidade sérica (ação do hormônio antidiurético no rim) não deve variar de forma rápida.

Ao evitar instabilidades no paciente, o método favorece a melhora mais rápida da condição que o levou ao quadro de insuficiência renal. “Conseguimos corrigir eletrólitos, retirar impurezas, ajustar níveis elevados de ureia, que podem levar a oscilação neurológica e hemodinâmica. Apesar de se tratar de um método de substituição renal, a manutenção da estabilidade hemodinâmica e a correção de alterações deletérias ao organismo contribuem para a mais rápida recuperação da função renal”, argumenta Dra. Juliana ao comentar que a terapia representa um grande avanço para a região.

Por fim, Dra. Marina comenta que as máquinas de terapia contínua disponibilizadas pela Unimed Chapecó dispõem de todas as modalidades de diálise contínua. “A escolha do especialista varia conforme as necessidades do paciente. Importante ressaltar que de forma geral, as complicações associadas à essa terapia são pouco frequentes, já que é um processo lento e que permite ajuste personalizado”, ressalta a nefrologista.